Apreciando Satélites, por Irmão X
Legítima Fraternidade
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Aqueles eram dias diferentes de outros que aconteceram no passado.
A psicosfera reinante era semelhante a um campo de batalha transformado em
jardim, no qual a primavera sorria flores nos terrenos antes áridos e espalhava
perfume no ar.
Jesus estava com eles, mas eles ainda não O conheciam, não tinham sequer
dimensão do significado, da oportunidade grandiosa que fruíam.
Eram homens simples, acostumados à labuta do mar e das demais profissões a que
se aferravam.
As suas aspirações não diferiam das que pertenceram aos seus pais: quem era
pescador, de pescador descendia e para o filho aspirava a mesma profissão, assim
por diante...
De Betsaida – ou Casa da Pesca -, assim como de Cafarnaum, vieram alguns deles,
cujo ofício era atirar as redes ao mar, e agora deveriam estirá-las no imenso
oceano da humanidade, a fim de colherem mulheres e homens para o reino dos céus,
que eles tampouco tinham ideia do que se tratava.
É certo, isto, sem dúvida, que amavam aquele admirável Rabi que os convocara,
sorrindo e cantando uma suave e doce melodia a que não se encontravam
acostumados.
Nunca haviam escutado uma voz igual, nem experimentado uma convivência como
aquela.
Alguns não se conheciam até o momento em que foram convocados, embora outros
fossem amigos e companheiros de faina diária. No entanto, formavam um grupo
gentil, afetuoso, com algumas dificuldades no relacionamento, como seria de se
esperar.
Enquanto Ele falava e convivia ao lado deles, estranha paz e comovente bem-estar
os vestia de alegria e a vida não os afligia.
Mas os seus horizontes de pensamento e de conduta eram semelhantes àqueles
geográficos: o mar, as montanhas, do outro lado na Decápole, as praias, as
pequenas contendas do comércio, as preocupações domésticas em torno do pão e do
peixe de cada dia...
Repentinamente, tudo se modificou.
Ouvindo-O, passaram a anelar por amplidão, pelos complexos acontecimentos que
iam além da sua região, pelos infelizes de que agora se davam conta. Sempre
haviam existido, mas, acostumados à sua miséria, nunca os perceberam, entendendo
a extensão do seu drama, das suas necessidades, e, acima de tudo, de que eram
seus irmãos.
Alguns eram mais ou menos compadecidos e até ajudavam este ou aquele, porém,
agora, em a nova ordem, passaram a ter importância, adquiriam significado,
porque o seu Mestre os elegera, convivia com eles, dialogava, ensinava-os a
viver, a erguer-se do estado abjeto com a simples mudança de pensamento, de como
encarar a existência e de sobrepor-se ao desespero.
Sem dúvida, tratava-se de uma revolução diferente, especial, na qual a ralé
adquiria cidadania, sem qualquer desprezo pelos opulentos e extravagantes que,
uma ou outra vez, também dEle se acercavam, curiosos ou zombeteiros,
interessados ou mesquinhos, mas tratados com gentileza.
A canção de amor e o seu Cantor passaram a ecoar pela região do mar, depois
alcançou os montes, as outras tetrarquias e, de todo lugar possível, buscavam-nO
para uma ou outra necessidade.
E Ele, cada vez fazia-se mais belo, mais sábio, mais misericordioso, mais
difícil de ser entendido no que dizia.
Quase sempre, nos grupos sociais, os indivíduos fecham-se, parecendo temer a
invasão de estranhos que lhes possam perturbar os hábitos e as ambições.
Aquele grupo que o Mestre conduzia não era diferente. Tratava-se de criaturas
humanas com as suas grandezas, mas também com as suas limitações, para não dizer
misérias morais... Eram homens simples, embora Espíritos preparados,
momentaneamente envoltos na ignorância...
À medida que se faziam mais conhecidos, não podiam dominar os velhos hábitos das
censuras, dos ressentimentos, das invejas, das pequenezes espirituais por onde
haviam transitado.
Discutiam por coisas nenhumas, disputavam a ternura do amigo, sem saber como
fazê-lo, censuravam-se reciprocamente e invejavam-se uns aos outros, cada qual
acreditando-se merecedor de atenção, de cuidados, que eram dispensados a João, o
jovem, filho do Trovão, e a Pedro, em cujo lar Ele se hospedava, quando se
encontrava na região.
Sem que se apercebessem, dividiram-se emocionalmente, embora juntos.
Por que será que João parece o preferido? – Indagava Judas.
Que tem Pedro que nós outros não possuímos? – Perguntava Tomé na sua
austeridade.
Não temos sido todos leais e atentos? – Inquiria Barnabé...
...E discutiam, apontando imperfeições nos outros...
A situação tornou-se mais difícil, quando uma antiga equivocada passou a
comparecer nas inesquecíveis reuniões dos entardeceres de luz no lago, nas
cercanias das cidades...
Não era ela uma mulher condenada? Como conviver com alguém que deveria, segundo
a severa Lei, ser punida pelos hediondos comportamentos que se permitira?
Era tão atrevida – diziam a meia voz – que se encorajara a adentrar-se na casa
de Simão e banhara os pés do Mestre com perfumes e lágrimas, enquanto os
enxugava com, os próprios cabelos!
Por que o Mestre a aceitara entre eles e até lhe tolerava a presença em momentos
em que somente eles, os homens, estavam reunidos?
A situação complicava-se à medida que o tempo transcorria na ampulheta dos
momentos.
Aconteceu num dia em que vinham excitados pelo caminho ao encontro de Jesus.
Estavam algo exaltados, irritados, de mau humor.
O doce olhar do Amigo sereno desceu sobre eles com imensa ternura,
desnudando-os, e sentiram-se constrangidos, enquanto, com a Sua terna voz, os
interrogava:
Que vínheis discutindo pelo caminho?
Envergonharam-se das mesquinhezes e mais ainda quando Ele lhes disse:
...Quem desejar ser o maior, que se faça o servo do menor...
Estavam desmascarados. O Amigo conhecia-os sim, e, apesar disso, os amava.
Ele, então prosseguiu, explicando:
Não é difícil ser grande no Reino de meu Pai, bastando somente ser o maior
servidor e o melhor amigo em Seu nome. Apagando-se no anonimato do Bem,
adquire-se o requisito para ter o nome escrito no livro dos Céus.
Todo aquele que se exalta, já goza da vaidade e da ilusão, tornando-se humilhado
depois, quando contemplar na glória aquele que foi desconsiderado.
Quem anela pelo planalto deve caminhar com segurança pela planície. A conquista
da paz interior é realizada mediante a compreensão do próximo, das suas
dificuldades e desvios... Ele não pede para ser julgado, censurado, mas suplica
ocasão de ser esclarecido e amparado.
Todos aqueles que se encontram bem já ultrapassaram o vale do desconforto e da
aflição, estando em condições de amparar quem ainda caminha na sombra da
ignorância.
Na construção da verdadeira amizade é indispensável que se pense nos irmãos
esquecidos na retaguarda, a fim de que a sementeira de bondade assinale os
esforços de iluminação.
O próximo, portanto, começa entre aqueles que estão mais perto um do outro, a
fim de ser encontrado à distância na estrada do abandono...
Eu vos convido para que aprendais a servir e nunca a fruir na Terra; a socorrer,
ao invés dos procedimentos julgadores que apresentam as culpas alheias.
Quem vem a mim necessita de acesso à paz e eu sou a Porta das ovelhas.
Estai atentos, pois que são muitos aqueles que aspiram ternura com as mãos
transformadas em cardos ferintes.
Desse modo, se não fordes capazes de vos amardes uns aos outros num pequeno
círculo de corações como podereis estender o primado da misericórdia por toda a
Terra?
Fez-se um natural silêncio.
A sua cantilena de bondade apresentava notas de melancolia e de júbilo, de modo
que não se sentissem repreendidos, mas orientados.
Adestrando-os na legítima fraternidade, Jesus os preparava para os testemunhos
do porvir que não seriam evitados.
Por: Amélia Rodrigues, Psicografia de Divaldo Pereira Franco, na residência de Epaminondas Correia e Silva, na manhã do dia 9 de agosto de 2013, em Paramirim, Bahia. Do site: http://divaldofranco.com.br/mensagens.php?not=300
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