
Preciso Consultar os Espíritos, por Orson Carrara
A+ | A- | Imprimir | Ouça a MSG | Ant | Post
Nem sempre os inimigos declarados da fé são os destruidores da edificação
espiritual. Os materialistas confessos, por vezes, são excelentes pessoas de
coração mole e cabeça dura. Sentindo-se afastados da prática religiosa, quase
sempre experimentam sincero prazer no serviço aos semelhantes, absolutamente
desinteressados da remuneração divina. A descrença deles resulta muito mais da
impossibilidade espiritual que da má vontade calculada. E como não se pode
exigir fruto da laranjeira tenra, é necessário deixá-los no ateísmo provisório,
ao sol e à chuva das experiências que fazem e desfazem as coisas e situações,
para que o homem descubra a própria grandeza.
Os caracteres verdadeiramente perigosos para os serviços edificantes da fé são
aquele que lhe recebem as bênçãos, absorvem as luzes e recolhem os benefícios,
declarando-se contra ela, no dia seguinte, empunhando as armas da inteligência
com que precipitam no abismo da dúvida a mente frágil dos companheiros que lhes
pedem a, mão.
Os sacerdotes do Sinédrio, que provocaram a crucificação do Cristo, permaneciam
na rigidez de princípios que lhes caracterizava o trabalho e jamais esconderam o
desagrado que a lição de Jesus lhes causava, mas os soldados pagos para declarar
que a ressurreição não passava de embuste grosseiro, asseverando, à maneira de
observadores super-inteligentes, que os discípulos haviam furtado o corpo do
Mestre nas sombras da noite, esses, sim, ocasionaram graves distúrbios, junto ao
Evangelho nascente. É inegável que semelhantes perturbadores não afetam a
verdade eterna em sua essência divina. As permanentes discussões dos astrônomos
sobre as manchas do Sol não impedem que o astro glorioso continue iluminando e
sustentando o Planeta. As tricas teológicas da Terra nunca diminuíram a
misericórdia de Deus. Entretanto, na esfera das realizações humanas, a ausência
de cooperação dos favorecidos da inteligência retarda, de certo modo, as
construções sublimes da fé viva para a concórdia e felicidade de um mundo
melhor. É justo, portanto, indicarmos a, zona nevrálgica do trabalho, procurando
acordar os companheiros de cérebro desenvolvido e coração atrofiado. Desde os
primeiros dias do Consolador, trazido à Terra com o Espiritismo cristão, cercam
eles a esfera do serviço digno de restauração evangélica, lançando as areias
movediças da dúvida no terreno destinado às convicções sadias.
Cooperando no ministério sublime de Allan Kardec, os Espíritos Sábios e
Benevolentes organizaram com o inesquecível missionário a codificação da
doutrina dor'>consoladora, endereçada ao espírito sofredor da Humanidade. Todavia,
Charles Richet, não obstante os títulos enobrecedores que lhe exornam a
personalidade, faz a revisão dos ensinamentos espiritistas, criando a
Metapsíquica para evidenciar a supremacia da dúvida. William Barrett, membro da
Real Academia da Inglaterra, depois de agraciado pelas luzes do plano superior,
proclama que a emoção nervosa é a fonte dos acontecimentos supranormais e que
ainda vem longe o tempo em que se possa provar a sobrevivência do ser humano,
além da morte, através das manifestações mediúnicas. Ochorowiez, favorecido por
elevadas inteligências desencarnadas, acompanha o gigantesco esforço dos Amigos
Espirituais, que lhe facultam notáveis demonstrações; no entanto, em seguida ao
prestigioso serviço das entidades invisíveis, declara que a levitação é produto
da mecânica biopsíquica, de cujos centros profanam, segundo a teoria dele, os
raios rígidos que movimentam os corpos sem contacto. Experimentadores diversos,
após receberem favores brilhantes do mundo invisível, propõem que a palavra
“materialização” seja substituída pelo termo “ectoplasia”, para significar que o
fenômeno não implica intervenção de inteligências estranhas e sim o mero
desdobramento do corpo físico em condições desconhecidas da energia nervosa.
Possuí a Ciência infinitos recursos terminológicos para incentivar a dúvida nas
almas. E quando surgem pesquisadores conscienciosos e sinceros, que não temem as
conseqüências de sua lealdade à sabedoria, alastram-se as definições sarcásticas
e chovem pedradas. Até hoje, aparecem pessoas interessadas em apresentar William
Crookes e César Lombroso na categoria de papalvos, a quem os médiuns subtraíram
as faculdades de observação diante da vida. Mesmo no Brasil, homens de vasta
cultura e projeção social, como Bittencourt Sampaio e Bezerra de Menezes, foram
tachado de palermas e loucos, o primeiro porque permutou a política engenhosa
dos homens pela divina política do Evangelho e o segundo porque trocou os
interesses financeiros dos médicos altamente remunerados pelos interesses
eternos do espírito.
É muito difícil vencer o dragão da vaidade humana que monta guarda ao nosso
patrimônio intelectual.
Ainda que homens respeitáveis e bem intencionados, como Richet, venham à zona do
esclarecimento, colaborando, com êxito na intensificação da cultura moderna,
surge sempre uma brecha, aqui ou ali, por onde o monstro deita as garras de
fora, revelando a deficiência de nossa edificação pessoal.
Essas maravilhosas inteligências filiadas à hesitação sistemática, continuarão
prejudicando o desenvolvimento dos germens da fé e adiando indefìnidamente as
realizações de um mundo espiritualizado; entretanto, passarão também no campo
infinito da vida, dando lugar aos cientistas mais fortes e desassombrados. Que
ninguém se perturbe, em face desses homens admiráveis pelo raciocínio, porque
eles vão discutindo, duvidando e morrendo e os Espíritos Benevolentes e Sábios
prosseguirão construindo, sem desânimo e sem inquietação a Terra Melhor de
amanhã.
Paciência e Raciocínio: por Emmanuel
Filosofia da Dúvida: por Irmão X
Caridade de Raciocínio: por Emmanuel
Se Tens Fé: por Emmanuel
Pra Que Discutir?: por Hilário Silva