O Regresso de Simão Pedro, por Maria Dolores
Auto-Estima
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Como a criança não sabe o que é felicidade, facilmente identifica-a no
divertimento, aquilo que a agrada e a distrai, os jogos que lhe povoam a
imaginação.
É na infância que se fixam em profundidade os acontecimentos, aliás, desde
antes, na vida intra- uterina, quando o ser faz-se participante do futuro grupo familiar no qual renascerá. As impressões de aceitação como de rejeição se lhe esculpirão em profundidade, abençoando-o com amor e a segurança ou dilacerando-lhe o sistema emocional, que passará a sofrer os efeitos inconsciente da animosidade de que foi objeto.
Da mesma forma, os acontecimentos à sua volta, direcionados ou não à sua pessoa,
exercerão preponderante influência na formação da sua personalidade, tornando-a
jovial, extrovertida ou conflitada, depressiva, insegura, em razão do ambiente
que lhe plasmou o comportamento.
Essas marcas acompanhá-la-ão até a idade adulta, definindo-lhe a maneira de
viver. Tornam-se feridas, quando de natureza perturbadora, que mesmo ao serem
cicatrizadas, deixam sinais que somente uma terapia muito cuidadosa consegue
anular.
Certamente, essa ocorrência tem lugar com aqueles que se vêm impelidos ao
renascimento para reparar pesados compromissos infelizes, retornando ao seio das
suas anteriores vítimas que agora os rechaçam, o que é injustificável.
A benção de um filho constitui significativa conquista do ser humano, que se
deve utilizar do ensejo para crescer e desenvolver os sentimentos superiores da
abnegação e do amor.
Na raiz de muitos conflitos e desequilíbrios juvenis, adultos, e até mesmo
ressumando na velhice, as distonias tiveram origem - efeito de causa transata -
no período da gestação, posteriormente na infância, quando a figura da mãe
dominadora e castradora, assim como do pai negligente, indiferente ou violento,
frustrou os anseios de liberdade e de felicidade do ser.
Todos nascem para ser livres e felizes. No entanto, pessoas emocionalmente
enfermas, ante o próprio fracasso, transferem para os filhos aquilo que
gostariam de conseguir, suas culpas e incapacidades, quando não descarregam todo
o insucesso ou insegurança naqueles que vivem sob sua dependência.
Esse infeliz recurso fere o cerne da criança, que se faz pusilâmine, a fim de
sobreviver ou leva-a a refugiar-se no ensimesmamento, na melancolia,,
sentindo-se vazia de afeto e objetivo de vida. Com o tempo, essas feridas
purulam, impelindo a atitudes exóticas, a comportamentos instáveis, às fugas
para o fumo, a droga, o álcool ou as diversões violentas, mediante as quais
extravasam o ressentimento acumulado, ou mergulham no anestésico perigoso da
depressão com altos reflexos na conduta sexual, incompleta, insatisfeita,
alienadora...
A sociedade terá que atender à infância através de mecanismos próprios,
preenchendo os espaços deixados pela ausência do amor na família, na educação
escolar, na convivência do grupo, nas oportunidades de desenvolvimento e de
auto-afirmação de cada qual.
Para tal mister, torna-se necessário o equilíbrio do adulto, educador formal,
que pode funcionar como psicoterapeuta, orientando-o para a compreensão dos
valores existenciais e das finalidades da vida.
A compreensão dos direitos alheios e dos próprios deveres, o contributo da
fraternidade, a segurança afetiva, a harmonia interior, a compaixão, a lealdade
se instalaram no ser, cicatrizando as feridas, à medida que o meio ambiente se
transforme para melhor e o afeto dos outros, sincero quão desinteressado,
substitua a indiferença habitual.
Qualquer ferida emocional cicatrizada pode reabrir-se de um para outro momento,
porquanto não erradicada a causa desencadeadora, os tecidos psicológicos estarão
muito frágeis, rompendo-se com facilidade, pela falta de resistência aos
impactos enfrentados.
A questão da felicidade, por isso mesmo, é muito relativa. Se a felicidade são
os divertimentos, ou é o prazer, ei-la de fácil aquisição. No entanto, se está
radicada na plenitude, muito complexa é a engrenagem que a aciona.
De certo modo, ela somente se expressa em totalidade, quando o artista conclui a
obra a que se entrega, o santo ao ministério de amor a que se devota, o
cientista realiza a pesquisa exitosa, o pensador atinge com a sua mensagem o
mundo que o aguarda, o cidadão comum se sente em paz consigo mesmo... O dar-se,
a que se refere o Evangelho, certamente é a melhor metodologia para alcançar-se
essa ventura que harmoniza e plenifica.
Toda vez, portanto, que alguém sinta incompletude, insegurança, seja visitado
pelos sentimentos inquietadores da insegurança, do medo, da raiva e da inveja
injustificáveis, exceção feita aos estados patológicos profundos, as feridas da
infância estão ainda abertas ou reabrindo-se, e necessitando com urgência de cicatrização.
Por: Joanna de Ângelis, Médium: Divaldo Pereira Franco
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