Apreciando Satélites, por Irmão X
Diferenças Entre Ser Uma Autoridade e Ser Mandão
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Por que tememos a autoridade?
Antes de fazer esta pergunta é necessário fazer uma outra: “Por que temos medo?”
Se esclarecermos o medo, provavelmente vamos saber lidar melhor com as ameaças
representadas por todas as atitudes de mando, comando e autoridade. A questão
não se resolve com uma resposta simples. Quando temos temor frente à autoridade,
cabe uma parcela de responsabilidade a quem a representa para nós, mas também
cabe uma parcela a nós mesmos, porque a figura de autoridade ou esse temor de
que estamos falando habita o nosso íntimo e nos faz, geralmente, muito mal.
Somos nós mesmos que deixamos os medos da autoridade tomar conta da gente? Como
este medo surge?
A figura de autoridade torna-se muito grande sobre nós devido à importância ou
ao valor que atribuímos a ela. As raízes desses medos tem início, bem cedo, na
maneira como a autoridade é passada para nós através da educação. Primeiramente,
a influência do lar. Os diálogos que são ouvidos pelas crianças representam uma
das maneiras de como elas aprendem. Os pais são os seus principais autores.
Quando a mãe diz, de forma natural e inconseqüente, “você vai ver quando o papai
chegar, vou contar tudo para ele”, não tem idéia do conteúdo que está passando
para o seu filho relacionado à autoridade. Nesta idade, a criança não sabe ainda
que é a própria mãe que conta para o pai tudo que aconteceu durante o dia na
ausência dele. Para a criança, fica a constatação de um fato misterioso. O pai
fica sabendo do que acontece mesmo não estando presente. Num outro momento, a
mãe usa outra expressão como “papai do céu vai castigar você se mentir outra
vez”. Para a criança o papai do céu que pode ficar sabendo da sua mentira é
outro mistério. Na cabecinha infantil estes dois mistérios começam a funcionar
em conjunto. Papai do céu pode saber de tudo que ela faz e o seu papai também
fica sabendo das coisas que acontecem, mesmo não estando presente. Ambos os
papais representam autoridade invisível. Mais do que isso, uma autoridade
sobrenatural porque o papai do céu Todo Poderoso fica na mesma categoria e
dimensão do seu papai, pois ambos adquirem o mesmo tipo de poder. É o que eu
chamo de caráter sobrenatural da autoridade. Daí por diante, qualquer figura de
autoridade vai ter um traço de poder misterioso e sobrenatural. Essa verdade que
foi fixada pela criança vai sendo confirmada pela vida afora, com expressões do
tipo “se a tua professora ver estar letra, você vai levar um zero deste
tamanho!” ou “se o teu chefe te pega fazendo isso, você vai levar uma bronca
daquelas” até que as pessoas se casem, constituindo um novo casal e reiniciem o
ciclo ao educar os seus filhos, quando o novo pai vai usar, e pior do que isso,
vai repetir uma expressão semelhante a que ouviu na infância “se a tua mãe ver
você mexendo na água, ela vai te bater!”. Isso dito pelo pai ou pela babá, tem o
mesmo efeito da frase da mãe “você vai ver quando o seu pai chegar”. As frases
ouvidas durante a infância recebem outras versões, mudam os personagens, mas o
sentido continua o mesmo: sempre conferindo à figura de autoridade, um traço de
super poder, na medida em que pode punir, mesmo não estando presente ao ato que
a criança pratica. É o poder praticado à distância, não porque esse poder exista
de fato, mas ele passa a agir dentro de cada um de nós como verdadeiro. Essa
verdade interna aparece nos medos e pelas sensações de perseguição que vêm a
nossa mente, quando nos sentimos emocionalmente ameaçados pela autoridade
invisível que pode ver e punir. Chefes, professores, policiais e principalmente
os pais moram dentro da gente como autoridades causadoras de medo, porque
representam o castigo que devemos sofrer por fazer alguma coisa errada.
Que diferenças podem existir entre a autoridade e a pessoa que manda?
As diferenças residem nas diversas maneiras pelas quais a autoridade é exercida.
Essas maneiras de que falamos irão determinar a qualidade do modo de exercer
autoridade e, ao mesmo tempo, construir a legitimidade da autoridade exercida
por alguém. O uso do autoritarismo é apenas um modo de exercer a autoridade, e
podemos dizer que é o modo ruim ou desqualificado de uma pessoa em posição de
comando ou de liderança, atribuindo-se o título de dono da verdade. Alexandre
Herculano disse que “o princípio da autoridade, considerado como critério único
e exclusivo da verdade, é não menos falso que o da razão, da consciência, ou de
qualquer outro, tomado do mesmo modo exclusivamente” . A posição de mando não
confere à pessoa a condição de idônea, nem a faz verdadeira nos seus atos. A
pessoa que manda deve construir a sua autoridade durante o tempo que está à
frente de um grupo ou exercendo um cargo que lhe permite ter pessoas
subordinadas, para que possa vir a ser referência para os outros, pelo seu modo
de ser e de agir. Não precisará provar nada, pois é como é. Será reconhecida.
Saberá ouvir quem a procure sem medos e sem sentir-se ameaçada. Possui sabedoria
e conhecimentos para criar e estabelecer regras e normas, e saberá avaliar as
exceções quando elas surgirem. Será capaz de demonstrar visão de futuro
percebendo novas tendências, novos valores, hábitos e costumes. Mostrar-se-á
como uma pessoa de mente atualizada e inovadora. Acima de tudo, será capaz de
praticar atitudes éticas. Nenhuma dessas qualidades você vai encontrar na pessoa
mandona, porque ela depende de os outros estarem submissos e concordes para
conseguir demonstrar pseudo firmezas e aparente segurança nas atitudes.
À luz da Doutrina Espírita, como podemos esperar as atitudes de autoridade?
A faculdade mediúnica possibilita a ligação entre as inúmeras dimensões
vibracionais do Universo, mostrando que a vida é ampla e infinita e, para que
possamos ser bons instrumentos da Vontade Divina, precisamos apenas viver a
normalidade da condição humana. Por não termos “senso de humanidade”, é que não
aceitamos o atual estágio evolutivo, ou seja, não admitimos viver, no momento
presente, a etapa existencial que o Criador nos destinou. No Livro dos Médiuns ,
em resposta à pergunta 226, encontramos a afirmação de que o desenvolvimento da
mediunidade não se processa na razão do desenvolvimento moral porque a faculdade
mediúnica é orgânica e sendo assim, independe da moral. Mas o mesmo não acontece
com o uso da mediunidade que, pode ser bom ou mau, segundo as qualidades de cada
um. Desta forma, a autoridade moral que podemos esperar de um dirigente ou
praticante da Doutrina Espírita que se constitua autoridade, esta sim, depende
da pessoa que vai, ao longo da vida, amadurecendo um pouco mais o seu Espírito
para encontrar-se já, em elevação moral e ser capaz de exercê-la com este traço.
Podemos, pois, afirmar que uma figura de autoridade de traços morais e éticos
duvidosos não sabe administrar bem o que é valor pessoal ou valor de outras
fontes, querendo usar, como se fosse dele, a sabedoria e o discernimento de uma
autoridade que não lhe pertence.
Você pode comentar alguma coisa sobre a questão ética? O que é mesmo?
A palavra Ética vem do latim e significa moral. Segundo o Dicionário Aurélio, é
o estudo dos juízos de apreciação que fazemos sobre a conduta humana e suas
atitudes, classificando-as do ponto de vista do bem e do mal dentro de uma
determinada sociedade. Segundo o pensador francês André Comte-Sponville , não
nascemos virtuosos, mas nos tornamos pela educação, pela moral, pelo amor. Agir
bem e, antes de mais nada, fazer o que temos que fazer, e depois o que se deve
fazer, o que vem a ser moral. Portanto, a moral estará mais no que devemos
fazer. E é claro que nesse dever, entram em questão o respeito e a consideração
aos outros. Como seres que um dia alcançaremos as virtudes, ser ético é praticar
o senso de justiça sendo, portanto, justo e bom. Nunca fazer alguma coisa para
alguém que não gostaríamos que fizessem a nós.
Por: Enéas Canhadas - Delfos, Caso tenha ou possua, envie-nos a referência desse texto.
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