Apreciando Satélites, por Irmão X
Depressão e Amor Próprio
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A vida nos reserva desafios importantes para alcançarmos a
felicidade. Ela também nos oferece múltiplas possibilidades de fazê-lo. Os
desafios, embora se constituam em obstáculos que exigem muita energia, são
permeados de alegrias e prazeres naturais. Para vencê-los, ora estamos numa
postura de doação, ora estamos noutra de recepção. Quando doamos, corremos o
risco de dos alienarmos de nós mesmos. Quando recebemos, corremos idêntico risco
de nos ausentarmos do mundo. Doar e receber são atitudes diante da vida que
exigem equilíbrio para não resvalarmos pela alienação ao interno ou ao externo.
A doação não deve ser um fim em si, mas um meio de conhecer a si próprio e ao
mundo. Psicologicamente, quando uma pessoa doa muito, costuma exigir muito. Ela
cria expectativas em relação ao seu próprio ato e, muitas vezes, ao
comportamento de quem lhe recebe os benefícios. O ato de doar deve ser seguido
de uma preocupação em fazer crescer quem recebe o benefício, na mesma medida em
que o doador se preocupa com seu autocrescimento.
É comum ver-se pessoas que passaram boa parte de suas vidas em tarefa de doação,
entrando em depressão. Às vezes, elas próprias não compreendem a causa,
decepcionando-se com a vida. Isolam-se e evitam quem possa ajudá-las. Perdem o
apetite ou mesmo passam a comer demais. Têm o sono reduzido, quando não
conseguem levantar da cama pelo seu excesso. Lamentam-se na solidão de seus
pensamentos, evitando o contato com as pessoas que mais amam. Descuidam-se
afetivamente. Entram num sentimento de autopiedade e reclamam de Deus pelo seu
estado. Às vezes, reduzem sua mobilidade, evitando sair ou exercitar-se, pois se
cansam com facilidade. Noutras oportunidades, para vencer a fase crítica pela
qual passam, agitam-se saindo muito ou buscando manter-se em atividade
constante. Não observam que perderam o interesse pelas atividades mais simples e
cotidianas da vida, ficando indiferentes às ocorrências do dia-a-dia. Por conta
disso, culpam-se ou se sentem inúteis. Simultaneamente, perdem o interesse pela
atividade sexual natural e diminuem a capacidade de se concentrar. Sentem
tristeza e angústia profundas. Algumas, porque são mais frágeis psicologicamente
ou por influência obsessiva, pensam em suicídio. Em resumo, perderam o
amor-próprio e o endereço de Deus.
Viver é uma arte que exige habilidade e flexibilidade. Nenhum ato humano deve
ser definitivo e tampouco pode se fazer de uma existência o degrau mais alto
para se conquistar a felicidade. A vida deve ser vivida como se caminhássemos
por uma longa estrada cujo fim a vista nunca alcança. Quando se quer viver a
vida, deve-se viver o presente com o olhar para o futuro, sem esquecer do
passado para melhor compreendê-la.
Devemos sempre estar atentos aos sutis mecanismos psicológicos que estão
subjacentes às nossas intenções. O que nos parece um ato de livre vontade pode
estar encobrindo uma culpa ou um outro complexo. Um certo senso crítico aos
próprios atos é sempre desejável, pois ninguém no mundo tem o completo
discernimento da realidade que lhe garanta estar sempre atuando adequadamente na
vida. Quando pensamos excessivamente em circuito fechado, sem admitir a entrada
de outras opiniões em nosso mundo, podemos cair no egocentrismo doentio. O
movimento contrário como forma de resolver o conflito, pode ser outro equívoco.
É preciso, antes de qualquer atitude para reverter a situação, entrar em contato
com os motivos que levaram a pessoa àquele estado depressivo.
Muitos são os problemas que podem promover a chamada depressão. Dentre eles
assinalo alguns que, inevitavelmente, a maioria de nós enfrenta. Viver num mundo
extremamente competitivo sentindo-se frágil e impotente; acostumar-se à rotina
sem as compensações desejadas; viver em contato com pessoas agressivas sem
coragem para enfrentá-las com equilíbrio; viver sem ser amado (a); viver sob
pressão profissional sem recompensas satisfatórias; não ter um sentido para a
vida nem saber por onde começar; não ter uma religião que lhe responda suas
questões mais íntimas; viver sendo inferiorizado por alguém e sem auto-estima
para mudar a situação; lidar com doenças persistentes sem diagnóstico
específico; viver em condições financeiras no limite ou abaixo dele; não
resolver seus problemas e necessidades sexuais; lidar com a morte pessoal e de
terceiros; administrar perdas e rejeições naturais na vida; lidar com as
ingratidões e incompreensões típicas do ambiente familiar; experimentar as
agruras da solidão; não aceitar as transformações e alterações físicas
decorrentes da idade; não entrar em contato com suas próprias limitações.
Como é praticamente inevitável atravessar a maioria desses problemas, devemos
nos prevenir antes que aconteçam. Um dos antídotos que poderemos utilizar para
isso é a vivência do Espiritismo de forma equilibrada e harmônica, sem
sectarismos ou rigidez. A consciência da imortalidade da alma e a
auto-determinação do próprio destino são fundamentais para que se alcance um
estado que evite a depressão.
Nenhum ser humano é uma ilha que possa sozinho resolver sua própria busca. A
conexão íntima que fazemos com Deus, com o próximo e conosco, é alavanca para
uma vida feliz e harmônica. Nossa vida deve ser vivida com entusiasmo e alegria,
mesmo diante de dificuldade múltiplas. Quem olha muito para baixo, isto é, para
o negativo, esquece que dentro de si mesmo mora um sol, que é Deus. É preciso
mirar o horizonte e acertar nas estrelas. Essas estrelas são o coração do outro
que conosco convive. Buscar acertar o coração das pessoas nos leva ao encontro
com o divino em nós.
Por: Adenáuer Novaes, Extraído da Revista Delfos
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