Quem é o Dono?
Quem não está acostumado estranha bastante. Habituados à
existência de uma hierarquia na condução das atividades, a novidade da
inexistência de hierarquia causa até um certo constrangimento. Mas, é verdade!
Não há qualquer tipo de hierarquia. Tudo atende a uma liderança natural e
obedece à legislação do país que exige o responsável legal, nada mais que isso.
Na realidade, em condições habituais, o responsável legal assume também a
liderança de um grupo, antigo ou recente, que reúne-se para estudar, divulgar e
promover o ideal a que se entregam. Nada impede, porém, que o líder não seja o
próprio responsável legal, já que o que impera nesses grupamentos é a sintonia
pelo ideal que os movimenta.
Sendo um movimento democrático, todos são absolutamente iguais, distinguindo-se
apenas pela iniciativa ou características pessoais. Nestes grupos ninguém tem o
direito de cobrança da conduta alheia, nem mesmo da imposição de idéias ou
comportamentos. Ao contrário, todos têm o dever mútuo da tolerância e devem
buscar individualmente a melhora pessoal para que todos sejam beneficiados,
inclusive fora do próprio meio já que são cidadãos comuns que participam da vida
social com indivíduos de outros grupos. Esta noção movimenta-os continuamente
para amplo trabalho em favor da sociedade, muitas vezes anônimo.
Estão sempre reunidos, buscam o bem; são conscientes da própria pequenez
individual e para isso procuram progredir moral e intelectualmente; compreendem
as dificuldades alheias e esforçam-se para minorá-las; renunciam a muitos
prazeres do mundo para dedicarem-se com afinco ao próprio ideal, compreendendo a
brevidade da existência terrena, bem como suas inúmeras ilusões; sabem que não
desfrutam de qualquer privilégio pela posição que ocupam e vão se
conscientizando aos poucos que é preciso trabalhar pela melhora do ambiente e do
local onde se encontram, fazendo o melhor. Enfim, apesar das limitações naturais
de qualquer pessoa humana, seguem confiando em Deus, procuram adotar o Evangelho
de Jesus como conduta e enxergam em todos os indivíduos seus irmãos, para quem
devem dirigir os esforços da fraternidade e da solidariedade. E a única
autoridade que prevalece é a moral.
Este o ideal espírita que norteia as instituições espíritas e suas atividades.
Ideal que convida ao permanente esforço da melhora individual; ideal que convida
à compreensão, à tolerância e à fraternidade para com todos; ideal que convida
ao equilíbrio, à harmonia.
Este ideal ensejou o surgimento do movimento espírita, que congrega os adeptos
do Espiritismo; todos sem dono, norteados porém pela própria consciência e pela
fundamentação da Codificação Espírita que se encontra à disposição de quem
queira conhecê-la – mesmo sem a obrigação de aceitá-la –, mas esforçando-se por
seguir o modelo e guia da Humanidade: Jesus!
É ideal que entusiasma, porque, como tantos outros, também busca o bem e
respeita a liberdade individual, mas apresenta uma característica essencial: a
aliança da fé com a ciência, explicando, à luz da lógica e do bom senso, as
razões dos extremos e das diferenças humanas.
Orson Carrara