Pais e Filhos

“Coloca a criança no caminho em que deverá andar e mesmo quando for velho não se desviará dele” – Salomão – provérbios 22-6.

No dia 12 de outubro, no Brasil, comemora-se o DIA DA CRIANÇA. Nesta data, todos nós oferecemos presentes aos nossos filhos e, muitas vezes, até nos sacrificamos para dar-lhes o que não podemos e gastamos o que não temos. Está correto esse procedimento? Afinal, quem serão os nossos filhos?
Damos a resposta do Espiritismo: -São os nossos irmãos, filhos de Deus, como nós. Diante dessa certeza, conclui-se que, sob a ótica espiritual, somos todos filhos adotados. Cada alma é confiada aos pais terrenos que oferecem a ela um corpo físico, onde irá morar por um tempo, em busca de novas experiências. São eles que se encarregam, provisoriamente, da sua orientação e a auxiliam para que possa crescer como um ser imortal.
Os amigos encarnados que nos aceitam em seus lares, e que um dia provavelmente serão recebidos nos nossos, são filhos e pais, pais e filhos, num vai-e-vem de longa duração. Somos os filhos carnais de alguém, segundo as normas do planeta, mas somos os filhos espirituais de Deus, criados à sua imagem e semelhança espiritual. Os pais de carne, portanto, agem como tutores que cuidam dos filhos do Pai verdadeiro, colaborando com Ele para a felicidade de todos.
Não se pode admitir a mínima negligência nessa tarefa que aceitamos, espontaneamente. Não devemos dar facilidades exageradas ou carregar fardos que são da competência do nosso filho. Se agirmos dessa maneira, o impediremos de ter seu próprio desenvolvimento. Não podemos ser donos do que não nos pertence. Convém considerar que, na maioria das vezes, tomamos atitudes para não ter preocupações. Decidindo à nossa maneira porque imaginamos que será melhor para todos. Mesmo que isto seja uma verdade, impedimos que o filho ganhe experiência. Quando a mãe faz as suas lições escolares, é ela que merece a nota alta e é ela que vai passar de ano. O filho, mesmo que promovido à série seguinte, não tem mérito nem conhecimento para enfrentar a nova etapa. Quando a mãe dá tudo na boca dos filhos, eles não saberão produzir o seu próprio alimento. E um dia poderão ter de fazê-lo.
É preciso ter em mente que a morte não marca data. Se orientarmos bem o “nosso filho”, desde os primeiros anos, como uma individualidade para viver no mundo, e não somente na nossa família, poderemos deixá-lo a qualquer momento sem o risco de que ele se desajuste e seja incompetente para cuidar-se. E os jornais mostram, todos os dias, crianças que ficaram órfãs por acidentes, assassinatos e imprevistos de toda ordem.
Se educarmos a criança corretamente, mesmo sem considerar a morte dos pais, teremos a alegria de ver nosso filho adulto, responsável, honesto e independente. Estará capacitado para abrir seu próprio caminho na vida e perceberemos nele, ainda que simplesmente pela conduta, o agradecimento de uma pessoa que se sente ajustada no mundo. As possíveis mágoas que ele teve diante do nosso rigor para orientá-lo serão esquecidas e compensadas pelos frutos colhidos.
Pelos ensinamentos do Espiritismo, aprendemos que não há criança ingênua, inocente, e, por isso, temos de aproveitar a reencarnação desde o início para ajustar esse espírito nessa sua volta. Muitos “não” deverão ser ditos, embora, para agradá-lo, digamos “sim” quase sempre. Muitas vezes é necessário que ele chore agora para não verter lágrimas mais tarde, quando o mundo lhe cobrar responsabilidades de maneira mais exigente. Na educação de um filho a razão deve vir antes do coração. O amor irracional causa muitos danos em quem amamos.
Em O Livro dos Espíritos, nas questões 379 a 385 (que traz um longo e bem elaborado comentário sobre a infância), os pais encontrarão orientações interessantes que os ajudarão na educação dos filhos. Vale a pena ler e meditar sobre as lições dos Espíritos, para esse assunto.
Dentre as tarefas do cristão, a paternidade é das mais importantes e, quando cumprida com amor e razão, energia e bondade, enaltece os espíritos que participaram da difícil experiência. Já disse o poeta: “Filhos, melhor não tê-los, mas se não tê-los, como sabê-lo.” Como saboreá-los se não vivermos a oportunidade da convivência.
O filho será, para os pais, motivo de alegria ou tristeza, orgulho ou vergonha, dependendo da forma como for conduzido. Mas se por motivos que independam do seu esforço, ele se recusar a ouvi-los, resta-lhes a consciência tranqüila e a certeza de ter feito o melhor que podiam e sabiam. Estejam certos, porém, que mesmo que ele se desvie, a semente está plantada e viva dentro dele e Deus, ainda que ele se perca, terá respeito pelos genitores e irá compensá-los pelo sacrifício de suas ações. Façam a parte que lhes compete e não esqueçam que a boa colheita sempre depende da fertilidade do terreno. Seu filho só herda de você os bens e a genética porque ele é uma individualidade espiritual e pode ser mais velho e mais evoluído do que você. Ele pode ter mais a ensinar-lhe do que a aprender, porque a idade cronológica da Terra nada tem a ver com a idade do espírito.
Seu filho é o seu irmão que Deus lhe confiou para que você o ampare, até que um dia ele volte ao seu verdadeiro Pai. Nesta hora, restarão as alegrias que juntos viveram e a saudade, que poderá ser agradável se as consciências estiverem em paz. Mais tarde, conforme as leis da vida e considerando-se a utilidade para ambos, poderá haver um reencontro para que essas almas voltem a aproximar-se na longa e eterna caminhada.


Otávio Caumo Serrano