Grito de Angústia

Se poeta fora, que de rimas não haveria de empregar, que de frases puras e harmoniosas não haveria eu de lançar mão para dedicar-Te , Senhor, a expressão do meu reconhecimento pela tua grandeza!
Se pintor fora, quantas e mais belas, ora suaves, ora vigorosas tintas haveria eu de misturar na palheta de minha imaginação, para desenhar-Te e colorir-Te com os matizes do sonho que habitasse meu coração!
Se engenheiro fora, quão longa, imponente e grandiosa seria a estrada que haveria de construir, simbolizando a extensão da jornada que um dia me levaria até junto de Ti!
Se navegador fora, com quão destemerosa coragem afrontaria os mares em tormentosa ebulição, olhos cravados no firmamento, a orientar-me pelas constelações ali desenhadas, procurando a indicação do porto de tua misericórdia, onde lançasse a âncora dos meus anseios!
Se músico fora, com que sofreguidão anotaria na pauta o eco das melodias que se evolam dessas regiões onde a tua bondade e o teu amor fazem vibrar as cordas dos corações daqueles que Te compreenderam e Te acharam muito antes de mim!
Mas, nada sou, nada valho, porque tantas e tantas vezes malbaratei as oportunidades que me deste e muito errei, recriando as mesmas situações de desvario e incontinência de que buscavas salvar-me, abrindo os meus olhos para as verdades da Vida Maior!
Oh Pai, quanto choro por não saber ainda discernir o certo do errado, o bom do mau, o amor do ódio, a resignação da impaciência, a fraternidade do egoísmo! Quanto me sinto acabrunhado a cada instante em que a invigilância me lança de novo no erro, na insensatez, na cólera, enfim na negatividade! Vê Pai, que conflito doloroso se espalha por todo o meu ser, querendo louvar-Te mas considerando-me indigno até de Te dirigir uma prece! Oh Pai, compreende minha angústia, e se me é dado mais uma vez implorar-Te, que seja esta minha súplica de agora tudo aquilo que não pude antes Te dizer! Se não posso ser o poeta maravilhado, o pintor extasiado, o engenheiro seguro, o navegador intrépido ou o músico embevecido, dá ao menos, Pai, que eu possa exprimir em uma única palavra todo o meu sentimento:
Perdoa-me!


Brutus