Desconfiem
O item é curto, tem apenas seis linhas. Está esquecido em O Livro dos
Médiuns. Sua validade é de tanta atualidade, todavia, que é preciso vez por
outra, ser lembrado.
Está na Segunda Parte, capítulo XXVIII – Charlatanismo e Prestidigitação. Como o
item é muito compacto, permito-me transcrever na íntegra ao leitor, poupando-o
de pesquisar. Todavia, ao trazer o texto curto, nosso intuito é sim motivar o
leitor a ir ao capítulo, dada a preciosidade daquele conteúdo, normalmente
esquecido. Afinal dentro do próprio capítulo estão os subtítulos Médiuns
Interesseiros e Fraudes Espíritas, distribuídos nos itens 304 a 323.
Mas existem médiuns interesseiros, ocorrem fraudes espíritas? Como não? Onde
está a criatura humana, está a imperfeição que a acompanha. Antes da mediunidade
ou dos fenômenos produzidos pelos espíritos e possibilitados pelos médiuns,
estamos nós, seres humanos, ainda na caminhada evolutiva.
Mas vamos ao item. É o que agora nos interessa. Em outras abordagens trataremos
dos outros dois itens.
Traz o item 322: “No capítulo Dos médiuns especiais, mencionamos, segundo os
Espíritos, as aptidões mediúnicas comuns e as que são raras. Cumpre, pois,
desconfiar dos médiuns que pretendam possuir estas últimas com muita facilidade,
ou que ambicionem dispor de múltiplas faculdades, pretensão que só muito
raramente se justifica”.
Note didaticamente as afirmações:
1 – Faz referência ao capítulo XVI – Médiuns especiais – na segunda parte.
2 – É mencionado: as aptidões mediúnicas, comuns e raras.
3 – Sugere, sem rodeios, desconfiar dos médiuns que pretendam possuir as
aptidões consideradas raras com muita facilidade. Ou de disporem de múltiplas
faculdades.
O item é de afirmação do próprio Codificador. E é firme em recomendar: “(...)
desconfiar dos médiuns que pretendam possuir estas últimas com muita facilidade,
ou que ambicionem dispor de múltiplas faculdades (...)”.
A advertência é oportuna e atual, face à ingenuidade, ou falta de conhecimento
ou mesmo tentativas de endeusamento de médiuns. E mesmo o fascínio que muitos
podemos nos deixar levar, médiuns ou não. É a prudência e o bom senso que a
própria Doutrina Espírita recomenda.
Nunca será demais consultar O Livro dos Médiuns, esse manancial de
conhecimentos, verdadeiro tratado sobre essa faculdade humana, absolutamente
natural, que não tem mistérios e nem precisa de misticismo ou adulações
dispensáveis.
Temos sim é que aprender com as orientações disponíveis para não cairmos na
areia movediça da vaidade ou do fanatismo, sempre extremos muito perigosos para
uma saudável prática mediúnica.
É através da vaidade e do fanatismo, ou em outras palavras, da falta de análise
racional do que a mediunidade produz, que entramos no perigoso terreno da
fascinação....
Aliás, procure passear pelo índice da citada obra. Um tesouro à disposição.
E diga-se: esse “desconfiar” não é no sentido agressivo, é antes na direção
preventiva, justamente para não adentrarmos o sempre avassalador mecanismo da
vaidade e da falta de bom senso e seus lamentáveis desdobramentos.
Orson Carrara