Aos Médiuns
Desde o momento em que as irmãs Fox, em Hydesville, começaram a suportar a
ironia e a suspeita do próximo, por haverem estabelecido uma nova modalidade de
comunicação com o Além, vocês todos, meus amigos, foram assinalados pelo mesmo
destino.
Para os cristãos dos tempos apostólicos; não chegavam as cordas e as cruzes;
para vocês, é preciso inventar novo gênero de sarcasmo e zombaria. Não basta o
ridículo, faz-se necessária a perseguição.
Os soldados, no campo de batalha, mormente os que suportam a metralha da frente,
adquirem vantagens perante as forças políticas que representam e, se feridos ou
mutilados, recebem especial consideração. Vocês, todavia, combatentes pela
vitória da espiritualidade, não gozarão semelhantes prerrogativas no mundo,
porque a tarefa representativa de que são portadores obedece a títulos que vêm
de mais alto.
Os sacerdotes das várias confissões religiosas da Terra, diplomados na cultura
do século, desfrutarão garantias sociais respeitáveis, em seu ministério de
orientação das almas, ligados aos interesses temporais das facções a que servem,
mas vocês lutarão nas vanguardas de trabalho pela restaurarão da fé viva e não
terão horas de lazer, nem privilégios estabelecidos. Em atividade permanente
para reduzir a invasão das sombras, chorarão, em silêncio, porque, como poucos,
vocês conhecem as dores indizíveis e irremediáveis que não podem ser narradas
pela boca para serem extintas no coração.
Servirão sem tréguas, observados atentamente pela crueldade dos inimigos e
ameaçados pela imprudência de muitos amigos, que não sabem onde situar o
entusiasmo e o retraimento.
Porque os olhos de vocês divisam outros domínios vibratórios e os ouvidos
registram sons que a maioria dos mortais não percebe, a calúnia lhes rondará a
porta do lar, o ridículo seguir-lhes-á o nome. Por um amigo sincero, terão mil
adversários gratuitos, e se caírem exânimes no combate silencioso, devido às
deficiências e limitações corporais, muitos daqueles que lhes sorriam ontem
perguntarão, maliciosos, se vocês atraiçoaram o mandado recebido. Muitas vezes,
se o sono e as exigências do organismo dilatarem a pausa de repouso,
indispensável ao mecanismo das células físicas, serão acusados de maus irmãos.
Por isso, muitos de vocês se retraem ao santuário doméstico, onde as glórias da
confiança e do amor são lauréis imperecíveis da alma. Entretanto, sempre chegará
o dia de enfrentar a longa e espessa floresta humana, onde os encarnados, em
maioria, se batem como javalis ferozes, uns com os outros.
Não duvidem. As horas difíceis soarão sempre e é necessário armar o coração para
os grandes testemunhos.
Consolem-se na certeza de que não sofrem inutilmente. Tempo virá em que os
homens compreenderão que a mediunidade não está circunscrita a determinados
seres. Todas as criaturas são instrumentos do bem ou do mal, médiuns do plano
superior ou inferior, no campo infinito da vida. Ninguém foge à corrente de
inspiração com que sintoniza. E todos os que marcharam na vanguarda da verdade e
da luz sofreram o assédio da mentira e da treva, não obstante a sua condição de
instrumentos da Providência Divina para o aperfeiçoamento e felicidade do mundo.
Localiza-os a História, em todos os tempos.
Giordano Bruno foi queimado por ensinar as leis da Natureza. Galileu morreu
cego, depois de sofrer, já septuagenário, escandalosas acusações por divulgar
alguns detalhes das maravilhas celestes. João Huss, o precursor da Reforma,
experimentou a fogueira.
Gutenberg foi processado, entre dissabores e vicissitudes, terminando a
existência, em extremo infortúnio, na companhia de um clérigo que o recolheu
caritativamente. Pestalozzi, a princípio, era considerado mau aluno. Edison
suportou o sarcasmo de técnicos e acadêmicos dos últimos tempos. Pasteur, em
certa ocasião, na cadeira de Química do Instituto de Dijon, foi tido por
medíocre. Para que intensificar as citações? Quase todos os que pugnaram com
Jesus pelo mundo melhor, nos primeiros séculos do Cristianismo, receberam
bofetadas e açoites, devassas e confiscações, pedradas de ingratos e insultos de
ignorantes, servindo de
pasto a feras, gemendo nos cárceres ou atados em postes de martírio. E como só a
objetiva do tempo consegue fixar as verdadeiras imagens do bem, as gerações
posteriores exaltaram-lhes os sacrifícios, aureolando-lhes o nome de glória
universal.
Trabalhem e sofram, pois, amando a tarefa a que se consagraram, não só pelo
resgate do passado, senão também pela sublime alegria de iluminação do presente.
Lutem e esperem.
Não somente vocês, mas todos os homens devotados ao trabalho construtivo e
redentor do mundo, estejam na pobreza ou na prosperidade, nas artes ou nas
ciências, nas letras dos livros ou nas leiras dos campos, são missionários da
elevação da Terra, não a serviço das dominações efêmeras do planeta, mas em
valiosa cooperação com aquele Rei coroado de espinhos.
Irmão X