Seres Obsidiáveis, Somos

Incrível como são vastas as janelas que se abrem para reflexões sobre a vida e seus desdobramentos. O próprio significado das palavras faz isso.

No caso especifico do fenômeno da obsessão, fartamente disponível na literatura espírita e ocorrência igualmente comum na vida humana – não restrita ao Espiritismo – até o tempo do verbo ajuda nessa compreensão.

Note-se nas definições próprias do idioma e também do conhecimento espírita:

a) Obsessão – influência perniciosa de uma personalidade sobre outra;
b) Obsidiar – cercar para obrigar, submeter, ato de perseguir, constranger;
c) Obsidiáveis – flexão do verbo obsidiar na 2ª. pessoa do plural do pretérito imperfeito do indicativo.

E vejam ainda a beleza do idioma. Além da flexão do verbo, como acima indicado, a palavra obsidiáveis (que está no título) nesse caso é adjetivo qualificando a palavra seres. É a coerência das regras gramaticais.

Em outras palavras, somos todos seres influenciáveis. A todo instante estamos sujeitos à influência perniciosa de outras mentes em desequilíbrio, estejam elas encarnadas ou desencarnadas. Isso porque ainda não temos domínio sobre nós mesmos nos sentimentos, reações, decisões, escolhas, posturas, palavras e comportamentos.
Diante de situações adversas podemos nos deixar envolver por sugestões nada construtivas. Ao mesmo tempo, a ausência de vigilância submete-nos à sedução de paixões variadas sugeridas ou buscadas que podem se transformar na ação constrangedora de outras mentes, configurando a obsessão, fenômeno muito conhecido e estudado pelo Espiritismo.

A prudência nunca será demais; os cuidados com o próprio comportamento, a vigilância das escolhas são recomendações sempre bem vindas e oportunas. Um passo em falso, um instante de distração pode significar porta de acesso a desequilíbrios que não temos como medir antes.

A fragilidade, pois, que ainda nos caracteriza, emocional e moralmente considerando, submete-nos à condição real de seres obsidiáveis. Ou seja, sujeitos à obsessão. Ainda que naquela considerada simples, ou mais graves como fascinação ou subjugação.

Que não se assuste o leitor. A abordagem não é pessimista, mas sim apenas real. Na verdade, uma reflexão assim nos conduz à dispensa de ambições ou de vãs pretensões, à demissão de tolas vaidades, ou renúncia ao egoísmo e ao orgulho. Ainda que não consigamos de imediato, é preciso exercitar essas renúncias com exercícios de desprendimento ou altruísmo, para irmos gradativamente sentindo o que verdadeiramente significa viver, em suas leis sábias, conduzindo-nos à real felicidade, que não se fixa em tolas ilusões.

Haja cuidado! Mas, convenhamos, como adquirir sabedoria, lucidez, evolução, senão com cuidados preventivos e esforços de aprimoramento?

Mãos à obra! Estamos todos juntos e podemos mutuamente nos ajudar.


Orson Carrara