A Traça

Meu pai era um homem frugal e bom. Ensinou-me , desde muito cedo, a entreter-me com as coisas aparentemente mais simples.
Um dos meus passatempos em criança era colecionar os casulos das traças e assistir,na primavera, à emersão das borboletas, espetáculo- para mim – de arrebatadora beleza. A luta delas para escapar do cárcere despertava, sempre, minha compaixão.
E um dia,com uma tesoura muito fina, papai veio e cortou a parede sedosa do casulo, ajudando o bichinho a se soltar.
A borboleta, daí a um instante, estava morta.
Era como se o trabalho fosse necessário à garantia de sua vida.
-Filho – disse papai - , o esforço com que essa traça procura libertar-se do casulo ajuda-a a segregar os venenos do corpo. Se o veneno não for expulso, o bichinho morrerá. O mesmo ocorre com a gente: quando uma pessoa luta por aquilo que deseja torna-se melhor e mais forte. Mas, quando as coisas se realizam sem esforço, tornando-nos fracos, pusilânimes, sem personalidade. E parece que alguma coisa morre dentro de nós.
Sei, hoje, que fui mais capaz de sustentar-me na adversidade, graças à lição tão profunda e tão viva que meu pai soube dar-me naquele dia.
E tudo se deveu a uma pequenina traça morta...

Não deixes teu pequenino 
Caprichoso ou desatento. 
Menino mal educado 
É demônio em crescimento.

Wallace Leal Rodrigues