Guerra Viva
Em verdade, a civilização do Ocidente já conseguiu abolir, no campo de seus
hábitos mais arraigados, a praga social do duelo, através da qual homens válidos
se atiravam inutilmente à morte...
Espadas e armas de fogo de velhos salões aristocráticos jazem relegadas ao
abandono e ao silêncio dos museus, mas o homem que rixava com o próximo, no
pretérito distante, buscando pretextos para aniquilar-lhe a vida, prossegue
alimentando em si mesmo a cultura de projeteis mentais, vivos e mortíferos, com
que interfere no programa santificante do Cristo, perturbando o caminho dos
semelhantes ou exterminando a si mesmo.
Não mais a contenda ostensiva na praça pública, mas a desarmonia destruidora no
coração.
Cada inteligência é um fulcro da vida, arrojando de si mesma forças intangíveis
que geram todos os processos de assimilação e desassimilação, em nossa estrada
comum.
E em todos os setores, vemos o companheiro terrestre despendendo energias que
lhe guerreiam a própria existência e lhe consomem a própria felicidade.
Elevada percentagem das moléstias indefiníveis nasce do desequilíbrio espiritual
a que se rendem as criaturas.
Os sanatórios e as estações de repouso assemelham-se a praias de socorro, onde
aportam inevitavelmente os milhares de náufragos do mundo social sem o Cristo em
que o homem se perde à maneira de viajor sem direção.
Em quase todas as instituições e em quase todos os lares, vemos a atividade
ruinosa dos projeteis do pensamento desvairado.
Raios de orgulho e vaidade, criando complexos de culpa.
Raios de ódio, estabelecendo perturbações de conseqüências imprevisíveis.
Raios de inconformação, consolidando processos de angústia.
Raios de tristeza estéril, estabelecendo enfermidades obscuras.
Raios de cólera, induzindo à delinqüência.
Raios de egoísmo, formando trincheiras de separatividade e sofrimento.
Raios de preguiça, coagulando as melhores oportunidades de trabalho e abrindo o
caos, à frente das promessas e dos votos brilhantes.
Raios de crueldade, congelando a ignorância e a penúria, em desfavor da
Humanidade, a quem devemos o nosso preito incessante de serviço e de amor.
Busquemos Jesus, cuja supervisão divina pode realmente consagrar dentro de nós o
governo sadio do equilíbrio e da sublimação.
Sem o Mestre da Cruz não aprenderemos o caminho que nos cabe trilhar, e sem a
Cruz do Mestre será de todo impraticável a nossa verdadeira ressurreição.
Emmanuel