Ser Espírita
Ante as perspectivas das lutas e sofrimentos que se organizam na psicosfera
terrestre, as bênçãos do Espiritismo constituem forças morais e recursos outros
espirituais para o inevitável enfrentamento que se aproxima.
Aos danosos efeitos psicológicos da pandemia devastadora, que vem amainando,
somam-se os pavores da guerra insana que devora a paz na sociedade, gerando
ódios lamentáveis e sofrimentos inimaginários.
A criatura humana, que alcança as benesses da alta tecnologia e apreende os
enigmas da Criação, apesar dos incontáveis benefícios que esparzem, não
conseguiram harmonizar o ser humano, demonstrando-lhe a grandeza de Deus e a
sublime dádiva da imortalidade.
As heranças do primitivismo da sua evolução destacam-se no esquema de
crescimento moral, mantendo-o primário e infeliz, quando tudo constitui estímulo
para a conquista dos tesouros divinos que lhe jazem em latência.
As lições decorrentes do barbarismo do passado, destruindo culturas valiosas e
civilizações nobres, não lograram convencer o ser humano que a cólera, essa
terrível mácula do caráter, somente resulta em multiplicadas dores e desencantos
que lhe aturdem a atualidade e o torna frágil diante dos desastres que se
permite.
As mágicas lições do amor, que enfloresceu vidas nas paisagens do pretérito, são
a única solução para tudo que o desafiou na caminhada evolucionista.
A Doutrina de Jesus que revolucionou a História da Humanidade e dulcificou vidas
incontáveis, não resistiu às ambições viciosas do tempo e transformou-se na vilã
perversa do próprio ser humano.
Depois do período incomparável do holocausto por amor, a partir do terceiro
século passou a sofrer os tormentos estabelecidos, convidando os seus membros ao
isolamento, à distância do seu irmão, e surgiram as fugas do serviço, buscando a
solidão e a distância dos pecadores, deixando-os à borda dos precipícios em que
se atiraram.
Logo depois, veio a loucura do poder e a perseguição sistemática das ambições
alucinadas, sendo cometidos crimes hediondos que nos envergonham como seres
humanos...
Surgiram os tribunais da fé e da maldade, aumentou o orgulho e o poder temporal,
enquanto se apagavam as luzes sublimes do amor e da humildade, descaracterizando
o Reino prometido por Jesus.
A mensagem dúlcida da misericórdia ficou submissa ao absurdo dos maus,
desaparecendo a luminosa claridade do Evangelho, sob os rios de sangue e
labaredas do horror.
Quando a noite se abateu tempestuosa sobre a sociedade, inerme e vítima da
crueldade religiosa vigente, a ciência desafiou a fé cega e acendeu novas luzes
nas paisagens ermas e à mercê do poder temporal da Igreja.
Quase concomitantemente o Senhor liberou os Seus ministros e cooperadores mais
diretos, permitindo que um exército de paz e solidariedade descesse ao planeta
anunciando a chegada do Consolador que Ele prometera, a fim de repetir Suas
lições e ficar para sempre no mundo.
O deserto cultural refloriu e a Terra adornou-se com as belezas que haviam
diminuído.
Jesus voltou com as Suas legiões sábias, amorosas e venerandas.
O Espiritismo propiciou a união do conhecimento intelectual com a fé racional,
mediante as conquistas dos seres abnegados da Espiritualidade e inaugurou a era
do Espírito imortal e da caridade libertadora.
A Humanidade abrasada pelas conquistas da inteligência entregou-se ao prazer e.
desarvorada, vem tentando sufocar o Bem nas suas malhas apertadas da ilusão.
A pretexto de compreender e participar da diversidade existente em tudo, ergue a
bandeira da promiscuidade sexual com relaxamento e abandono dos deveres morais
que devem viger em toda parte.
O ser humano não é apenas o amontoado material que se decompõe com facilidade,
mas são a sua realidade espiritual, o raciocínio lógico, o respeito à vida em
todas as suas expressões.
Eis porque ser espírita, neste período, é um grave desafio que não pode ser
desconsiderado, empenhando-se as resistências morais e as recomendações
doutrinárias ao seu comportamento.
Infelizmente, porém, vem-se usando métodos acomodatícios e alguns levianos com
justificativas e escusas para a conduta pessoal irregular.
O abandono do Centro Espírita, trocando-o pelas comodidades domésticas, alija-o
do próximo, a fim de fruir os benefícios da Internet, constituindo uma forma de
abandono da fraternidade e, por consequente, da caridade.
Elucida-se que é resultado da escassez de tempo, das distâncias entre a
residência e as Instituições ativas de amor e de estudo, aglomerações, assaltos
e crimes hórridos, recolhendo-se às paredes domésticas, sem pensar naqueles que
não as têm...
As obrigações relativas à Casa Espírita vão ficando ameaçadas por falta de
servidores devotados ao trabalho do bem.
O Centro Espírita, não olvidemos, é a célula mater do Espiritismo, onde se
pratica a meditação, o estudo, a convivência com a dor do próximo, a vivência do
Evangelho...
Ser espírita, neste momento de perturbações e calamidades, é um convite à ação
do bem de qualquer jaez.
Os cristãos primitivos davam a vida a Jesus.
Não O buscavam para servir-se, mas para servi-lO, na construção do Reino de Deus
na Terra.
Indispensável definir-se que ser espírita é manter-se atos dignos e
correspondentes aos ensinamentos estabelecidos pela Codificação Kardequiana que
mantém a doutrina dos imortais…
Saudamos, neste sentido, a Federação Espírita do Paraná, por ter suas portas
abertas ao amor, à caridade, à iluminação do Espírito e à divulgação do
Espiritismo, conforme herdamos de Allan Kardec e dos seus colaboradores,
servindo Jesus há 120 anos.
Lins de Vasconcelos