Curas e Fé
No conhecido episódio narrado por Marcos (cap. V, 25 a 34), no caso da mulher
enferma da perda de sangue havia muitos anos, o diálogo oferece interessantes
oportunidades de aprendizado. Kardec tratou do assunto no capítulo XV de A
Gênese (item 10), apresentando as importantes e seguintes considerações a partir
da genial indagação (aqui parcialmente transcritas):
“(...) Mas, por que essa irradiação se dirigiu para aquela mulher e não para
outras pessoas, uma vez que Jesus não pensava nela e tinha a cercá-lo a
multidão? É bem simples a razão. Considerado como matéria terapêutica, o fluido
tem que atingir a matéria orgânica, a fim de repará-la; pode então ser dirigido
sobre o mal pela vontade do curador, ou atraído pelo desejo ardente, pela
confiança, numa palavra: pela fé do doente. Com relação à corrente fluídica, o
primeiro age como uma bomba calcante e o segundo como uma bomba aspirante.
Algumas vezes, é necessária a simultaneidade das duas ações; doutras, basta uma
só.
O segundo caso foi o que ocorreu na circunstância de que tratamos. Razão, pois,
tinha Jesus para dizer: Tua fé te salvou. Compreende-se que a fé a que ele se
referia não é uma virtude mística, qual a entendem muitas pessoas, mas uma
verdadeira força atrativa, de sorte que aquele que não a possui opõe à corrente
fluídica uma força repulsiva, ou, pelo menos, uma força de inércia, que paralisa
a ação. Assim sendo, também, se compreende que, apresentando-se ao curador dois
doentes da mesma enfermidade, possa um ser curado e outro não. É este um dos
mais importantes princípios da mediunidade curadora e que explica certas
anomalias aparentes, apontando-lhes uma causa muito natural. (Cap. XIV, nos 31,
32 e 33.)”. Nada a acrescentar.
Orson Carrara