Soneto

“Quando cobrir-se o chão de folhas mortas
– Meu coração dizia em grave entono –
Extinguindo-se a vida que comportas,
Dormirás no meu seio o último sono...

E murmurava a alma – “Findo o Outono,
A Primavera vem por outras portas;
Não existe no túmulo o abandono,
Ou a dor amarga e rude em que te cortas.”

Escutava essas vozes comovido,
Morto de angústia, morto de incerteza,
Aguardando o sol-posto, entristecido;

E além da amarga vida de segundos,
Ressurgi da tortura e da tristeza,
Sob os ares sadios de outros mundos!


Antônio Nobre