Não é o Médium que Devemos por num Pedestal
Com o título O Zuavo Curador do Campo de Chálons, Allan Kardec publicou
magnífico relato de médium curador. A palavra zuavo refere-se a soldados
argelinos e de outros territórios árabes a serviço do exército francês, que
chamavam atenção pelos uniformes um tanto diferentes, num período compreendido
entre meados do século XIX e março de 1962, quando foi declarada a independência
da Argélia. Entre os soldados havia um jovem, médium curador, incompreendido
claro, mas muito procurado, pelas curas que executava com simplicidade.
Kardec extraiu notícias de jornal para comentar o assunto, já que a fama do
rapaz se espalhou a ponto de serem interditadas as visitas ao rapaz, pelo
superior hierárquico. Alguns casos de curas do moço de nome Jacob, sempre
humilde e discreto, estão descritos no artigo, onde as considerações do Kardec
primam pela lucidez e caminhos de raciocínios ao leitor.
Não deixe de ler, amigo (a) leitor (a). Trata-se de precioso documento.
Pelas limitações da presente abordagem, apenas com caráter de motivação ao
conteúdo integral, transcrevo a sólida argumentação de Kardec, com seu sempre
caráter orientador para o bem, muito próprio de sua índole humanitária de
verdadeiro benfeitor da Humanidade:
(...) considerando-se que o dom de curar não é resultado do trabalho nem do
estudo, nem de um talento adquirido, aquele que o possui não pode considerá-lo
um mérito. Louvamos um grande artista, um sábio, porque eles devem o que são a
seus próprios esforços, mas o médium melhor dotado não passa de instrumento
passivo de que os Espíritos se servem hoje e que podem deixar amanhã. O que
seria do Sr. Jacob se ele perdesse a sua faculdade, o que ele prudentemente
prevê? O que era antes: o músico dos zuavos, ao passo que, embora isto aconteça,
ao sábio sempre restará a ciência e ao artista o talento. Ficamos feliz por ver
o Sr. Jacob partilhar destas ideias, portanto, não é a ele que se dirigem estas
reflexões. Ele compartilhará de nossa opinião, não temos dúvida, quando
dissermos que o que constitui um mérito real no médium, o que se deve e pode
louvar com razão, é o emprego que faz de sua faculdade; é o zelo, o devotamento,
o desinteresse com os quais ele a põe a serviço daqueles a quem ela pode ser
útil; é ainda a modéstia, a simplicidade, a abnegação, a benevolência que
respiram em suas palavras e que todas as suas ações justificam, porque essas
qualidades lhe pertencem mesmo. Assim, não é o médium que devemos pôr num
pedestal, porque ele pode descer amanhã: é o homem de bem, que sabe tornar-se
útil sem ostentação e sem proveito para a sua vaidade. (...)
Orson Carrara