A Fortuna

Anda a Fortuna por uma praça,
Fala à Ventura com riso irmão,
E mais adiante topa a Desgraça,
E altiva e rude lhe esconde a mão.

Vaidosa e bela, dá preferência
Ao torpe egoísmo acomodatício,
E entre as virtudes, na existência,
Escolhe sempre flores do vício.

E assim prossegue na desmarcada
Carreira louca do vão prazer,
Como perdida, e já sepultada,
No esquecimento do próprio ser.

Depois, cansada e já comovida,
Quando só pede luz e amor,
Acorre à Morte por dar-lhe a Vida,
E vem a Vida por dar-lhe a Dor.


João de Deus