O Frio Que Veio de Dentro
Seis homens ficaram bloqueados numa caverna por uma avalanche
de neve.
Teriam que esperar até o amanhecer para poderem receber socorro.
Cada um deles trazia um pouco de lenha e havia uma pequena fogueira ao redor da
qual eles se aqueciam. Se o fogo apagasse – eles o sabiam, todos morreriam de
frio antes que o dia clareasse. Chegou a hora de cada um colocar sua lenha na
fogueira. Era a única maneira de poderem sobreviver.
O primeiro homem era um racista. Ele olhou demoradamente para os outros cinco e
descobriu que um deles tinha a pele escura. Então ele raciocinou consigo mesmo:
– Aquele negro! Jamais darei minha lenha para aquecer um negro.
E guardou-as protegendo-as dos olhares dos demais.
O segundo homem era um rico avarento. Ele estava ali porque esperava receber os
juros de uma dívida. Olhou ao redor e viu um círculo em torno do fogo
bruxuleante, um homem da montanha, que trazia sua pobreza no aspecto rude do
semblante e nas roupas velhas e remendadas. Ele fez as contas do valor da sua
lenha e enquanto mentalmente sonhava com o seu lucro, pensou:
– Eu, dar a minha lenha para aquecer um preguiçoso?
O terceiro homem era o negro. Seus olhos faiscavam de ira e ressentimento.
Não havia qualquer sinal de perdão ou mesmo aquela superioridade moral que o
sofrimento ensinava. Seu pensamento era muito prático:
– É bem provável que eu precise desta lenha para me defender. Além disso, eu
jamais daria minha lenha para salvar aqueles que me oprimem.
E guardou suas lenhas com cuidado.
O quarto homem era o pobre da montanha. Ele conhecia mais do que os outros os
caminhos, os perigos e os segredos da neve.
Ele pensou:
– Esta nevasca pode durar vários dias. vou guardar minha lenha.
O quinto homem parecia alheio a tudo. Era um sonhador. Olhando fixamente para as
brasas. Nem lhe passou pela cabeça oferecer da lenha que carregava.
Ele estava preocupado demais com suas próprias visões (ou alucinações?) para
pensar em ser útil.
O último homem trazia nos vincos da testa e nas palmas calosa das mãos, os
sinais de uma vida de trabalho. Seu raciocínio era curto e rápido.
– Esta lenha é minha. Custou o meu trabalho. Não darei a ninguém nem mesmo o
menor dos meus gravetos.
Com estes pensamentos, os seis homens permaneceram imóveis. A última brasa da
fogueira se cobriu de cinzas e finalmente apagou.
Ao alvorecer do dia, quando os homens do Socorro chegaram à caverna encontraram
seis cadáveres congelados, cada qual segurando um feixe de lenha. Olhando para
aquele triste quadro, o chefe da equipe de Socorro disse:
– O frio que os matou não foi o frio de fora, mas o frio de dentro.
Desconhecido