Velho João
Velho João, agonizas triste e pobre,
Sem que o mundo, sequer, a mão te estenda ;
Ninguém te oferta um caldo por merenda,
Nem um trapo de pano que lhe sobre...
Ah! ninguém te agradece ao peito nobre
O cansaço na roça e na moenda;
Morres, lembrando as pompas da fazenda,
No seboso molambo que te encobre.
Percebes, pelos vãos da própria furna,
Flores aos borbotões, na paz noturna,
E abandonas o corpo, a fim de vê-las...
Fitas, em prece, a noite calma e santa
E sobes, velho João, como quem canta
Nos milharais do Céu, plantando estrelas!
Roubaste um pão apenas, Mãe querida,
Tu que foste roubada em toda a vida
Por tantos filhos que te abandonaram!...
Mas Deus guarda-te, além, por luz e enfeite,
O tesouro de sangue, pranto e leite
Das pérolas de amor que te furtaram!
Cornélio Pires