A Sublime Sentença

Ao pé de templo enorme, a praça tumultua.
Ansiosa expectação na calçada poeirenta...
A massa encontra o Cristo e, trágica, apresenta
Consternada mulher a chorar seminua...

– “Adúltera, Senhor!” – velho escriba insinua.
– “Que dizes, Mestre?” – insiste a multidão violenta –
“Somos o tribunal que a tradição sustenta,
A lei é apedrejar nos libelos da rua!”

– Fita o Mestre a infeliz que à miséria alanceia;
Inclina-se, em seguida, e escreve sobre a areia,
Como quem grava o sonho onde a vida não medra.

Depois, contempla em torno a malícia, o veneno,
E exclama para a turba, entre nobre e sereno:
– “Quem for puro entre vós, lance a primeira pedra!”


Francisco Antônio de Carvalho Jr