Vida Íntima
O enunciado socrático a respeito da autoiluminação, exarado no conceito
Conhece-te a ti mesmo, permanece de grande atualidade, em nossa sociedade
aturdida.
A criatura moderna, intelectualizada e instrumentalizada para a felicidade
mediante as conquistas exteriores e os padrões extravagantes de cada época, vem
perdendo a própria identidade e muda de comportamento conforme os ventos das
fantasias do prazer, qual embarcação sacudida por ventos vários.
As ambições externas para a conquista do prazer e das glórias momentâneas atira
a cultura em diferentes direções, e as metas tradicionalmente consagradas como
roteiros de segurança para uma existência ditosa vêm sendo substituídas por
comportamentos estranhos, alterados com vícios sociais e morais que a exaurem.
Acompanhamos o surgimento de filosofias de ocasião, debates verbais e escritos,
estimulando a revolta e a indiferença pelos valores éticos, dando lugar a uma
sociedade de atormentados e infelizes, mesmo quando sentados nas montanhas de
ouro do poder e da fama.
Periodicamente, no auge de uma overdose de substâncias químicas ou sem nexo pelo
alcoolismo, muitos sucumbem em suicídios extravagantes, falando a respeito do
vazio existencial, embora tudo quanto possuem e desfrutam.
Sucede que nas filosofias do prazer imediato e da igualdade absoluta, num
devaneio que encontra participantes ultrajados por si mesmos, todo estímulo é
para fora, para o exterior da realidade humana e se considera o sofrimento uma
desgraça que deve ser combatida sem cessar.
O notável psiquiatra austríaco Viktor Frankl concluiu que existem três fatores
que todos os seres humanos enfrentam e têm que resolver a sua problemática, numa
questão de objetivo existencial, que são: a culpa, o sofrimento e a morte.
Esses elementos, que se encontram em todas as vidas, devem ser enfrentados
interiormente, num esforço de autoconhecimento, de iluminação das sombras do
ego, trabalhando-os com naturalidade e vencendo-os, ou aceitando-os com
naturalidade, porquanto são inevitáveis.
Jesus, o Terapeuta por excelência, chamava-os de Reino dos Céus, que se encontra
no âmago do ser, e demonstrou-nos como vencer esses adversários, enfrentando-os
sem disfarce. Para tanto, estabeleceu regras de conduta que contribuem para a
harmonia íntima e o preenchimento dos vazios íntimos mediante o amor e a
solidariedade.
Dar sentido à vida é significar-se útil sob qualquer aspecto, lúcido em relação
àquilo que lhe faz bem e o dignifica, superando lembranças culposas e
enfrentando o fenômeno da morte como inevitável por fazer parte do processo da
vida.
A oração honesta, a meditação e o serviço em favor do próximo são os efeitos de
uma vida íntima saudável e feliz.
Divaldo Franco