O Problema do Esquecimento

Quando o benfeitor terminou, indaguei então acerca do meu próprio estado íntimo. Já que findara minha existência no veículo de carne, por que não reentrar na posse do passado? Por que razão não lembrava o período anterior ao meu retorno à carne? Por que me surpreendia, ante os espetáculos da vida livre, se da vida livre me ausentara, um dia, a fim de reencarnar-me? Não seria a morte simples regresso da alma no pátrio lar? Em que causas se me enraizaria o esquecimento?

O Irmão Andrade ouviu-me sereno e informou que a reencarnação e a desencarnação constituem vigorosos e renovadores choques para o ser e que se, em alguns casos, era possível o reajustamento imediato da memória, quando a criatura já atingiu significativo grau de elevação, na maior parte das vezes a reabsorção das reminiscências se verifica muito vagarosa e gradualmente, evitando-se perturbações destrutivas.

Podemos simbolizar a mente numa casa suscetível de povoar-se com valores legítimos ou transitórios, quando não esteja atulhada de inutilidades e viciações. Alimentando-se na Crosta da Terra com muitas idéias e paixões não perduráveis, aproveitadas pelo Espírito apenas por material didático, a não ser em processo expiatório, para esvaziar-se do mal ou da ilusão, não lhe é possível o mergulho indiscriminado no pretérito, medida essa que lhe seria ruinosa, mormente na ocasião em que se desenfaixa do corpo denso, de carne.

Explicou que alguns companheiros usam excitações e processos magnéticos para adquirirem a lembrança avançada no tempo; no entanto, de acordo com apropria experiência, aconselhava a submissão aos recursos da Natureza, de modo a retomarmos o pretérito com vagar, sem alterações de conseqüências deploráveis, até que, um dia, plenamente iluminados, possamos conquistar a memória integral nos círculos divinos.


Irmão Jacob