O Papel do Centro Espírita no Mundo Pós-pandemia

A pandemia provocada pelo chamado Covid-19 está afetando profundamente todo o mundo. Como o tempo de disseminação poderá se prolongar por um tempo não muito definido, no presente momento, não se pode prever a completa extensão de suas repercussões.

Claramente, há prenúncios de grandes crises econômicas, sociais, sanitárias e familiares.

Nesse contexto, os problemas espirituais são inevitáveis junto às populações afetadas e deve haver também envolvimento do mundo espiritual, dos grupos socorristas e apoiadores da humanidade e alguma agitação entre aquelas entidades espirituais que se aproveitam para prejudicar em situações de tensão pessoal e coletiva.

Na medida em que o tempo for passando, ficarão claras as alterações junto às instituições espíritas.

De um lado pode ocorrer eventual maior procura pela busca de compreensão dos sérios impactos, acolhimento, consolo e orientação espiritual. Esse atendimento é o objetivo maior do centro espírita. Ao mesmo tempo, pode-se ampliar a faixa de pessoas carentes de apoio material, atingidas pelo desaquecimento da economia e pelo desemprego.

As próprias instituições espíritas poderão estar imersas em dificuldades para a manutenção e até, em alguns casos, com a necessidade de recomposição de equipes de colaboradores.

Na vigência da pandemia, as instituições espíritas tiveram que atender às recomendações sanitárias e governamentais de isolamento social, fechando suas portas materiais. E aí, muitas instituições, grupos de estudo e de trabalho, e expositores passaram a adotar as chamadas reuniões virtuais ou online. Rapidamente alguns tiveram que treinar para utilizar as formas de comunicação a distância e as redes sociais.

A dificuldade criada pela pandemia, em tempo curtíssimo, já provocou também um efeito interessante: a adequação para a utilização dos novos recursos tecnológicos. Muitos nem poderiam imaginar que estariam inseridos nesse contexto novo.

Interessante é que temos conhecimento de que o cenário físico é uma cópia adaptada de realidades do “outro lado”, valendo a pena buscarmos a ilustração em obras espíritas bem difundidas, e que muitas vezes o leitor não percebe o detalhe de alguns episódios reveladores de condições do Plano Espiritual.

Ou seja, “do outro lado” são empregadas várias formas de comunicação.

A propósito, nos recordamos de palestra proferida por Edimilson Luiz Nogueira1, integrante da antiga equipe da secretaria geral do Conselho Federativo Nacional da FEB, em evento no Centro Espírita André Luiz, de Brasília, e que também contou com nossa presença.

Nosso companheiro desenvolveu oportuna exposição com recurso visual relacionando fatos descritos pelo espírito André Luiz na obra Nosso Lar. Na realidade, os registros feitos por André Luiz, àquela época no ano de 1944, foram algumas antecipações tecnológicas sobre equipamentos do Plano Espiritual.

Referente ao livro citado, o expositor comentou sobre: porta automática com acesso digital e projetor multimídia (Cap. 3); auscultação tomográfica (Cap.5); o veículo aéreo designado de aeróbus (Cap. 10); um grande aparelho com imagens da Governadoria (Cap. 17); aparelho à maneira do cinematógrafo terrestre com cinco projeções variadas e simultâneas (Cap. 32); e, uma descrição também antecipando a arquitetura moderna, de graciosos edifícios, a espaços regulares, exibindo formas diversas (Cap. 7).

Essas notas nos chamam atenção de que em algumas décadas essas informações espirituais já se tornaram realidades entre nós e se torna inimaginável o que possa ser descoberto e inventado, espectivamente, na área da ciência e da tecnologia.

O tempo atual demonstra vertiginoso progresso nos meios de comunicação. A rotina - dos lares, estudos, trabalhos profissionais, desenvolvimento tecnológico e científico e lazer -, passa por profundas modificações com a utilização de formas diferentes de equipamentos e com a ampliação dos recursos da rede social.

As várias faixas etárias, precocemente desde a infância, mas já atingindo a 3ª idade, empregam computadores, tablets e telefones celulares.

Em função dessa realidade dinâmica e que se expande rapidamente nas várias faixas sociais, torna-se necessário que as instituições espíritas se adequem ao contexto atual incluindo o emprego de videoconferências.

Na medida do possível e da realidade de cada local, torna-se interessante que as reuniões públicas, de estudo, administrativas, de planejamento de atividades e até o atendimento fraterno, incluam também o recurso das transmissões online. Muitos eventos como seminários e até congressos podem ter o alcance de difusão bem ampliado com a transmissão ao vivo.

A essa altura surge uma indagação natural: será que muitas viagens de expositores, até onerosas, não poderiam ser substituídas por videoconferências?

Evidentemente que nas reuniões presenciais e a distância, a linguagem e o tempo de duração devem se adequar a cada público alvo.

Sem dúvida, algumas atividades presenciais são imprescindíveis, pois o calor humano e a vibração do local são importantes.

Mas aí emerge uma outra questão: nos centros espíritas rotineiramente fazemos vibrações a distância para lares, pessoas necessitadas e doentes. As pessoas unidas por um tema ou por uma prece feitas em reuniões virtuais também poderiam se vincular vibratoriamente a uma mesma faixa e receberem apoios espirituais?

E o que dizer do evidente crescimento da expectativa de vida, ampliando a faixa de idosos?

Entre estes surgem problemas de mobilidade, acesso aos locais e em algumas cidades até de segurança. A opção de eventos e reuniões virtuais poderia favorecê-los.

Entre o público que aprecia e se utiliza da leitura já cresce em nosso país o número daqueles que preferem os livros digitais, os e-books. As editoras e distribuidoras espíritas necessáriamente precisam se adaptar a essa demanda crescente e que favorece a difusão do livro para qualquer parte do mundo. Logicamente será um novo desafio econômico para as editoras espíritas e principalmente aquelas que editam livros com objetivos filantrópicos.

Todavia os futuros cenários econômicos das instituições e das pessoas demandarão algumas ações solidárias.

A propósito, cabe a reflexão se essa séria crise mundial não teria também outros desdobramentos na área das relações entre as pessoas? A pandemia poderá provocar reflexões sobre a vida e sobre valores?

Sobre isso, é cabível refletirmos em trecho do Codificador, quando comenta sobre “Os tempos são chegados” e gera a esperança para o momento de transição da humanidade: “[...] a fraternidade será a pedra angular da nova ordem social, mas não há fraternidade real, sólida e efetiva sem estar apoiada sobre uma base inabalável. Essa base é a fé; não a fé em tais ou quais dogmas particulares que mudam com o tempo e os povos e que se apedrejam mutuamente…” 3.


Bibliografia
1. Nogueira, Edimilson Luiz. Antecipações Tecnológicas no Plano Espiritual segundo André Luiz. [Palestra]. Brasília, 18 de abril de 2009.
2. Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito André Luiz. Nosso lar. Cap. 3, 5, 7, 10, 17, 32. Rio de Janeiro: FEB.
3. Kardec, Allan. A gênese, os milagres e as predições segundo o espiritismo. Cap. XVIII. São Paulo: FEAL. 2018.


Antonio Cesar Perri de Carvalho