Panegírico do Conhecimento

A teimosia da ignorância - remanescente das experiências nas faixas inferiores do progresso da evolução - é dos mais vigorosos obstáculos a ser transposto por aqueles que se afadigam pela operosa atividade do bem, na Terra. Porque gerada na brutalidade do instinto que não discerne, é acomodada e recalcitrante, reacionária aos processos de transformação das estruturas, de modo a poupar-se esforços por conciliação com as mínimas necessidades a que se fixa. 
Antídoto valioso, o conhecimento constitui-lhe o impulso do crescimento, a mola que a expulsa, abrindo as percepções para a liberdade que facilita os horizontes amplos a conquistar. 
Onde medra a luz do saber legítimo aí não vicejam a agressão nem o ciúme, a corrupção nem o desespero. 
O conhecimento da verdade desmonta as armaduras da insensatez, ao mesmo tempo fomentando o ideal de elevação. 
A Átila, açulado pela paixão da guerra, a Gêngis Cão, sedento de glórias bélicas, faltaram as claridades da sabedoria, que os libertariam das expressões primitivas, canalizando suas forças para arregimentarem os povos escravos, oferecendo-lhes mais amplo relacionamento fraternal, gerador do progresso e da felicidade. 
Afirma-se, no entanto, em atitude sofista, que os maiores criminosos da História, que provocaram guerras lamentáveis, eram dotados do conhecimento de que se utilizavam para destruir e submeter as vítimas com sadismo selvagem. 
A colocação, no entanto, não procede, já que tais promotores das desditas coletivas aferravam-se ao conhecimento intelectual sem qualquer vivência emocional do seu conteúdo. Portadores de personalidades esquizóides, ou infelizmente subjugados por mentes atormentadas que os telecomandavam do além-túmulo, entregavam-se aos macabros devaneios da dominação absurda, extrapolando da cultura em que se poderiam edificar para a ceifa de vidas, numa loucura auto-aniquilante... 
Quando nos referimos ao conhecimento, aludimos às experiências da educação em profundidade, num complexo de saber e agir com ordem e amor. 
O conhecimento sem a vigência do amor ensoberbece e alucina. 
O homem que sabe, mas que se não deixa dulcificar pela aspiração do bem e do belo - expressões do amor ideal - termina por transformar-se em sicário dos outros e chacal de si mesmo... 
O conhecimento, do nosso ponto de vista, tem amplitude abrangente, enfeixando a informação intelectual, a ação vivencial e a experiência evangélica numa tríade que se completa, harmônica, para os resultados otimistas da criatura que os cultiva. 
Face a isto, torna-se carente o homem que coleta dados e informações, porém não se identifica com a mensagem fascinante de Jesus Cristo. 
É certo que há exceções de homens que estão na história do pensamento e que se não identificaram diretamente com as lições do Cristo. Convém ressaltar, porém, que assim foram, porque eles próprios eram Emissários do Senhor ou discípulos desses, que preparavam a gleba para o Enviado Divino ou Lhe sucederam abrindo brechas mentais para que a meridiana luz da estrela de primeira grandeza, que é o Mestre Galileu, pudesse impregná-los em totalidade. 
O conhecimento propela à reflexão quanto à humildade, em se considerando o entendimento da fragilidade e da pequenez do seu detentor, que se auto-ilumina, descobrindo-se na situação real. 
O exercício da reflexão conduz, igualmente, à busca da ascensão pela prece, que se converte em estímulo a impulsionar para a superação dos limites e para o crescimento interior. 
O retorno da oração faz que a alma lenida e inspirada, após a conquista do alto, mergulhe nas baixadas onde a dor reside, oferecendo braços de socorro se doando forças, aos combalidos que tombaram como aos calcetas que se desesperaram na alucinação, necessitando de ajuda. 
Jesus, o sábio por excelência, veio ao paul dos homens a fim de erguê-los às luminíferas constelações, onde nos aguarda, magnânimo. 
O conhecimento da verdade esbate as trevas da ignorância, corrige as arestas da imperfeição, fortalece a fraqueza para que se alcance a meta a que todos se encontram destinados. 
Vencei a ignorância atrabiliária e infeliz com o alfabeto, pondo nas letras as fulgurações do amor e da paciência, geratrizes do perdão e da caridade, que são as chaves para se decifrarem os enigmas da personalidade humana, nesta soberana arrancada da criatura que sai da treva da ignorância, fascinada pelos primeiros lampejos da luz da verdade que já consegue vislumbrar!


Francisco do Monte Alverne