Discípulos do Cristo
Somos discípulos do Cristo.
Mas, repetindo com Ele a sublime afirmação: – “Pai nosso que estais no céu”,
esperamos que Deus se transforme em nosso escravo particular, atento às nossas
ilusões e caprichos.
Somos discípulos do Cristo.
Contudo, redizendo junto a Ele as inesquecíveis palavras de submissão ao
Criador: – ”Seja feita a vossa vontade”, assemelhamo-nos a vulcões de
imprecações, sempre que nos sintamos contrariados na execução de pequeninos
desejos.
Somos discípulos do Cristo.
Entretanto, refazendo com Ele a súplica ao Pai de Infinito Amor:– ”o pão de cada
dia dai-nos hoje”, reclamamos a carcaça do boi e a safra do trigo exclusivamente
para a nossa casa, esquecendo-nos de que, ao redor de nossa mesa insaciável,
milhares de companheiros desfalecem de fome.
Somos discípulos do Cristo.
Todavia, depois de implorar com o Sábio Orientador à Eterna Justiça: – “perdoai
as nossas dívidas”, mentalizamos, de imediato, a melhor maneira de cultivar
aversões e malquerenças, aperfeiçoando, assim, os métodos de odiar os mais
fortes e oprimir os mais fracos.
Somos discípulos do Cristo.
No entanto, mal acabamos de pedir a Deus, em companhia do Grande Benfeitor: –
“Não nos deixeis cair em tentação”, procuramos, por nós mesmos, aprisionar o
sentimento nas esparrelas do vício.
Somos discípulos do Cristo.
Contudo, rogando ao Todo-Poderoso, junto do Inefável Companheiro: – “livrai-nos
de todo mal”, construímos canhões e fabricamos bombas mortíferas para arrasar a
vida dos semelhantes.
Somos discípulos do Cristo.
Mas convertemos o próximo em alimária de nossos interesses escusos, olvidando o
dever da fraternidade, para desfrutarmos, no mundo, a parte do leão.
É por isso que somos, na atualidade da Terra, os cristãos incrédulos, que
ensinam sem crer e pregam sem praticar, trazendo o cérebro luminoso e o coração
amargo.
E é assim que, atormentados por dificuldades e crises de toda espécie – aflitiva
colheita de velhos males –, cada qual de nós tem necessidade de prosternar-se
perante o Mestre Divino, à maneira do escriba do Evangelho, guardando nalma o
próprio sonho de felicidade, enfermiço ou semimorto, a exorar em contraditória
rogativa:
– ”Senhor, eu creio! Ajuda a minha incredulidade!"
Jacinto Fagundes