Aos Companheiros da Terra
Pouca gente vence a prova
Do amor que de amor se aparta:
Depois do morto na cova,
Olho enxuto e mesa farta.
Raciocínio calmo e fundo,
Cultiva na direção,
Muito crime neste mundo
Tem nome de coração.
Atende aos próprios misteres,
Evita a cabeça tonta,
De tudo quanto fizeres
Prestarás estrita conta.
Não faças sombra ou deserto
A interrogar o porvir.
A estrada responde certo
A quem procura servir.
Alfaia, jóia e tesouro
São grilhões de encarcerar,
Águia de garras no touro
Não consegue volitar.
Na morte, convém saber,
È novo câmbio a seguir.
Quem guardou, toca a perder,
Quem deu, vem a possuir.
O vivo goza e delira
Em títulos de espavento.
O morto pede à mentira
A esmola do esquecimento.
Américo Falcão