Allan Kardec
A ação de Bonaparte, invadindo as searas alheias com o seu movimento de
transformação e conquista, fugindo á finalidade de missionário da reorganização
do povo francês compeliu o mundo espiritual a tomar enérgica providencias contra
o seu despotismo e vaidade orgulhosa. Aproximavam-se os tempos em que Jesus
deveria enviar ao mundo o Consolador, de acordo com as suas auspiciosas
promessas.
Apelos ardente são dirigidos ao Divino Mestre, pelos gênios que se reúnem e
confraternizam nos espaços nas esferas mais próximas da terra. Um dos mais
lúcidos discípulos do Cristo baixa ao planeta, compenetrado de sua missão
consoladora e, dois meses antes de Napoleão Bonaparte sagrar-se imperador,
obrigando o papa Pio VII a coroá-lo na igreja de Notre Dame, em Paris, nascia
Allan Kardec, aos 3 de outubro de 1804, com a sagrada missão de abrir caminho ao
Espiritismo, a grande voz do Consolador prometido ao mundo pela misericórdia de
Jesus-Cristo.
Livro: A Caminho da Luz
O século XIX desenrolava uma torrente de claridade na face do mundo,
encaminhando todos os países para as reformas úteis e preciosas.
As lições sagradas do Espiritismo iam ser ouvidas pela humanidade sofredora.
Jesus na sua magnanimidade repartiria o pão sagrado da esperança e da crença com
todos os corações.
Allan Kardec, todavia, na sua missão de esclarecimento e consolação, fazia-se
acompanhar de uma plêiade de companheiros e colaboradores, Cuja ação
regeneradora não se manifestaria tão-somente nos problemas de ordem doutrinaria,
mas em todos os departamentos da atividade intelectual do século XIX. A ciência,
nessa época, desfere os vôos soberanos que a conduziriam às culminâncias do
século XX. O progresso da arte tipográfica consegue interessar todos os núcleos
de trabalho humano, fundando-se bibliotecas circulantes, revistas e jornais
numerosos. A facilidade de comunicações, com o telégrafo e as vias férreas,
estabelece o intercambio direto dos povos. O laboratório afasta-se
definitivamente da sacristia, intensificando as comodidades da civilização.
Constrói-se a pilha de coluna, descobre-se a indução magnética, surgem o
telefone e o fonógrafo. Aparecem os primeiros sulcos no campo da
radiotelegrafia, encontra-se a análise especial e a unidade das energias físicas
da Natureza. Estuda-se a teoria atômica e a fisiologia assenta bases definitivas
com a anatomia comparada. As artes atestam uma vida nova. A pintura e a musica
denunciam elevado sabor de espiritualidade avançada.
A dádiva celestial do intercambio entre o mundo visível e o invisível chegou ao
planeta nessa onda de claridades inexprimíveis. Consolador da humanidade,
segundo as promessas do Cristo, o Espiritismo vinha esclarecer os homens,
preparando-lhes o coração para o perfeito aproveitamento de tantas riquezas do
Céu.
Livro: A Caminho da Luz
A tarefa de Allan Kardec era difícil e complexa. Competia-lhe reorganizar o
edifício desmoronado da crença reconduzindo a civilização às suas profundas
bases religiosas.
Atenta à missão de concórdia e fraternidade da América o plano invisível
localizou ai as primeiras manifestações tangíveis do mundo espiritual, no famoso
lugarejo de Hydesville, provocando os mais largos movimentos de opinião. A
fagulha das plagas americanas, como partira igualmente delas a consolidação das
conquistas democráticas.
A Europa busca ambientar as idéias novas e generosas, que encontram o discípulo
no seu posto de oração e vigilância, pronto a atender aos chamamentos do Senhor.
Numerosos cooperadores diretos da sua tarefa auxiliam-lhe o esforço sagrado,
desdobrando-lhe as sínteses em gloriosos complementos. O orbe, com as suas
instituições sociais e políticas, havia atingido um período de grandiosas
transformações, que requeriam mais de um século de lutas dolorosas e remissoras,
e o Espiritismo seria a essência dessas conquistas novas, reconduzindo os
corações ao Evangelho suave do Cristianismo.
Livro: A Caminho da Luz
Conta-se que logo após a sua desencarnação, quando o corpo ainda não havia
baixado ao Pére-Lacahise para descansar à sombra do dólmen dos seus valorosos
antepassados, uma multidão de Espíritos veio saudar o mestre no limiar do
sepulcro. Eram antigos homens do povo, seres infelizes que ele havia consolado e
redimido com as suas santas expansões afetivas, uma lâmpada maravilhosa caiu do
céu sobre a grande assembléia dos humildes, iluminando-a com uma luz que por sua
vez, era formada de expressões do seu “Evangelho segundo o Espiritismo”, ao
mesmo tempo em que uma voz poderosa e suave dizia do infinito: - “Kardec,
regozija-te com a tua obra”! A luz que acendeste com os teus sacrifícios na
estrada escura das descrenças humanas vem felicitar-te nos pórtico misteriosos
da imortalidade... O mel suave da esperança e da fé que derramaste nos corações
sofredores, da Terra, reconduzindo-os para a confiança na minha misericórdia,
hoje se entorna em tua própria alma, fortificando-te para a claridade
maravilhosa do futuro. No Céu estão guardados todos os prantos que choraste e
todos os sacrifícios que empreendeste... Alegra-te no Senhor, pois teus labores
não ficaram perdidos. Tua palavra terá uma benção para os infelizes e
desafortunados do mundo, e ao influxo de tuas obras a terra conhecerá o
Evangelho no seu novo dia!...
Livro: Crônicas de Além-Túmulo
Emmanuel