O Raio da Morte

Em toda a parte onde a criatura não se vigia, ei-lo que surge, como arremessado pelos abismos da sombra.

É o raio da morte que extermina, implacável, todas as sementeiras do bem.

Na maternidade - é a força imponderável que provoca o desastre do aborto ou que fulmina pobres anjos recém-natos a sugá-la por veneno sutil, à flor do materno seio.

Na paternidade - é a frustração das mais preciosas esperanças endereçadas pelo Céu em socorro à família.

No lar - é o espinho magnético, alimentando o sofrimento naqueles que mais amamos.

No templo - é o assalto das trevas às promessas da luz.

Na caridade - é o golpe da violência colocando o vinagre do desencanto e o fel da revolta no prato da ingratidão.

Na escola - é a ofensa à dignidade do ensino.

Entre amigos - é o azorrague de brasas crestando as bênçãos da confiança.

Entre adversários - é o instinto que arma o braço desavisado para o infortúnio do crime.

Nos moços - é a certidão de incapacidade para servir.

Nos adultos - é o punhal invisível degolando sublimes desejos de entendimento e progresso.

Por onde passa deixa sempre um rastro de lodo e sangue, lágrima e desespero, exigindo a mais ampla serenidade do tempo e o mais dilatado perdão para que o equilíbrio da vida se refaça.

Esse raio mortal é a cólera onde aparece.

Para conjurar-lhe o perigo, só existe um remédio justo - receber-lhe o impacto destruidor no clima do silêncio sobre a antena do coração.


Emmanuel