Quadro Familiar
Eu estava sentado em minha cadeira favorita, estudando para a
fase final de meu doutorado, quando Sarah apareceu com uma pergunta:
"Papai, você quer ver meu desenho?" "Sarah, papai está ocupado. Volte um pouco
mais tarde, querida." Eu estava ocupado. O trabalho de uma semana inteira a ser
feito em apenas um fim de semana.
Dez minutos depois ela entrou na sala: "Papai, me deixa te mostrar o meu
desenho." "Sarah, volte mais tarde. Isto que estou fazendo é importante."
Três minutos depois ela entra novamente, fica à um palmo de meu nariz e falou
com todo o poder que um comandante de cinco anos de idade poderia conseguir:
"Você quer ver ou não?" "Não, eu não quero."
Com isso, ela zuniu pra fora e me deixou só. E de alguma maneira, estando só
naquele momento não estava tão satisfeito quanto pensei que ficaria. Me senti
como que puxado e fui até a porta da frente. "Sarah" eu chamei, "você poderia
entrar um minuto, por favor? Papai gostaria de ver o seu desenho."
Ela entrou sem reclamações e se atirou em meu colo. Era um grande quadro. Ela
lhe deu até um título. No alto, com sua melhor letra, estava escrito: NOSSA
FAMÍLIA.
"Me explique o quadro", pedi a ela.
"Aqui é a Mamãe (uma figura de palito com cabelo longo, amarelo, ondulado), aqui
sou eu, do lado de Mamãe (com um sorriso no rosto), aqui é Katie (nosso
cachorro), e aqui é
Missy (a pequena irmã dela)." Era uma interessante apresentação da forma como
ela via nossa família.
"Adorei seu desenho, querida. Vou pendurar na parede da sala de jantar, e toda
noite quando eu voltar da aula eu vou olhar para ele."
Ela sorriu de orelha a orelha e foi brincar lá fora. Voltei aos meus livros. Mas
por alguma razão eu mantive a leitura no mesmo parágrafo repetidamente. Algo me
deixava intranqüilo.
Algo sobre o desenho de Sarah. Alguma coisa estava faltando.
Eu fui até a porta da frente."Sarah," eu chamei, "você poderia voltar aqui
dentro um minuto, por favor? Eu quero olhar seu desenho novamente." Sarah voltou
ao meu colo. Hoje, fecho meus olhos e posso ver exatamente o jeitinho dela.
Bochechas
rosadas. Rabo de cavalo, short vermelho e tênis. Uma boneca de pano, chamada
Nellie, debaixo do braço.
Eu fiz uma pergunta para minha pequena menina, mas não estava certo de querer
ouvir a resposta. "Querida, Tem a Mamãe, e Sarah, e Missy. Até Katie, que é um
cachorro está no desenho.
E tem o sol, e a casa, e esquilos e pássaros. Mas Sarah... onde está seu papai?"
"Você está na biblioteca. Ela respondeu."
Com aquela declaração simples, minha pequena princesa parou o tempo para mim.
Erguendo-a suavemente, eu lhe mandei de volta para brincar ao sol de primavera.
Eu me afundei em minha cadeira com a cabeça girando. A declaração simples de
Sarah
- Você está na biblioteca - prendeu minha atenção por um bom tempo.
Pendurei o desenho na parede da sala de jantar conforme tinha prometido à minha
menina. E por aquelas longas semanas que antecederam a defesa de minha tese, eu
encarei aquele retrato esclarecedor. Finalmente terminei meu doutorado. Agora
eu era "Dr. Rosberg", e eu deveria ter me sentido muito bem.
Mas francamente não havia muita alegria em minha vida.
Uma noite depois da graduação, Barbara e eu estávamos conversando na cama e eu
lhe perguntei:
"Barbara, obviamente você viu o desenho da Sarah pendurado na parede da sala de
jantar. Por que você não disse nada?"
"Porque eu sei o quanto feriu você."
Palavras de uma sábia mulher. Àquele ponto, eu fiz a pergunta mais difícil de
minha vida.
"Barbara... Eu quero voltar pra casa. Posso?"
Vinte segundos de silêncio se seguiram. Parecia que eu prendia meu fôlego por
mais de uma hora.
"Gary", Barbara disse cuidadosamente "as meninas e eu te amamos muito. Nós o
queremos em casa. Mas você não esteve aqui.
Eu me senti como mãe e pai durante muito tempo."
As palavras impressas parecem frias, mas ela as disse com carinho e ternura. Era
apenas a verdade clara, sem disfarce.
Minha pequena menina tinha desenhado o quadro, e agora a mãe dela dizia as
palavras. Minha vida tinha sido descontrolada, minha família estava em piloto
automático, e eu tinha uma longa estrada pela frente se quisesse as conquistar
novamente. Mas eu
tinha conseguir. Agora que a névoa tinha se dissipado, se tornou o objetivo mais
importante de minha vida.
O Dr. Gary Rosberg conseguiu sua família de volta. Mas isso custou tempo,
sacrifício e amor. Dois anos depois, suas três queridas princesas lhe entregaram
um presente: um novo quadro da família, com Papai bem no centro. De volta ao seu
lugar.
Gary Orsberg