O Ciúme
O ciúme é um sentimento perturbador, que aflige a maioria das criaturas e
alcança algumas outras espécies animais. Trata-se de uma emoção que se deriva do
medo de perder-se a pessoa amada ou os objetos, posições e relacionamentos
conseguidos ao longo da existência. É muito variável o seu grau de manifestação,
apresentando-se de maneira sutil e simples até os casos mais graves de
transtorno psicológico e mesmo mental, quando se transforma em fixação
patológica.
O ciúme tem causas diversas, desde a infância, nos complexos de Édipo e de
Electra, quando a criança ama o genitor do mesmo sexo e tem medo de perdê-lo.
Noutros casos, são fenômenos de falta de autoestima e de ausência de segurança
pessoal, por não acreditar nos próprios valores que lhe parecem insignificantes,
facilmente superados pelos de outras pessoas.
Famílias desajustadas em que são demonstradas afeições diferenciadas entre os
seus membros, com a eleição de uns em detrimento de outros, respondem a
conflitos e recalques de autodesvalorização e medo. O ciúme transtorna a vida de
quem o padece e agasalha, assim como daquele que lhe padece o aguilhão,
porquanto a sua morbidez atormenta a ambos, envolvendo também outrem que lhe
seria o causador.
Mesmo nas suas expressões mais simples, tem tendência de tornar-se destruidor,
pela ausência de confiança e pelos tormentos que produz no paciente,
inspirando-lhe, muitas vezes, crimes tenebrosos, a fim de livrar-se da situação.
O ciúme é filho espúrio do egoísmo na sua faina de querer sempre para si, de não
repartir emoções nem posses, encastelando-se em territórios de congelamento
afetivo.
Pode-se facilmente superá-lo, quando os parceiros se resolvem pela honestidade
do diálogo esclarecedor, oferecendo, cada um a seu turno, segurança e paz,
defluentes do próprio ato de amar. Em casos mais graves deve-se recorrer à
psicoterapia, a fim de libertar-se desse gigante da alma que alucina. O
verdadeiro amor não se deixa corroer pela insegurança do ciúme.
Divaldo Pereira Franco