Romântico

Ser romântico é acordar cedinho,
bendizer o ar fresco da manhã.
É valorizar o próprio cantinho,
sentir o passo leve no caminho,
consciência reta, mente sã.

É ser gentil em casa ou fora dela,
é constante esforço por um clima
de serenidade e respeito.
É em tudo perceber a parte bela,
é exaltar a qualidade, não o defeito.

É ouvir o comentário desairoso,
e sem alarde, de mansinho,
introduzir o pensamento harmonioso,
reconhecendo as próprias falhas,
o próprio desalinho.

Ser romântico é amar sempre.
Até mais intensamente,
embora a aparência moderada.
É trazer o interior contente
pela atitude equilibrada.

Ser romântico é enternecer-se.
Pelo passo lento dos velhinhos,
pelo falar afoito das crianças.
No afago dispensado ao animalzinho,
pela saudosa e velha lembrança.

Ser romântico...

É ainda querer rodar o pião,
não mais soltar balão,
empinar pipa,
galgar a árvore,
juntar figurinha;
andar de pé no chão,
guardar a letra da canção,
decorar a quadrinha...

É gostar do apito do trem,
do ranger da velha porteira,
do capim viçoso.
Da serra florada,
da nuvem isolada,
do recanto mimoso.

Mas é gostar também...

Do leito seco do rio,
do vento cortante e frio,
da árvore morta.
Da noite escura
e do seu negro véu;
da folha que rola caída,
do deserto quase sem vida,
do raio que corta o céu...

Ser romântico é cantar a flor que desabrocha
e não esquecer da murcha
que já enfeitou o caminho.
É trazer a boca que não debocha,
um coração que não reprocha,
é ofertar somente carinho.

Romântico, enfim...

É tudo o que se possa dizer
usando o pensamento profundo;
tudo o que nos possa enternecer,
tudo o que nos faça crescer,
tudo o que há de belo no mundo.


Luan Jessan