Advertência
Em nossas atividades da noite de 17 de junho de 1954, antes do socorro
habitual aos irmãos conturbados e sofredores, havíamos efetuado breve
leitura acerca da mediunidade e do amor cristão, preparando ambiente
adequado às nossas tarefas. E, ao término da reunião, fomos agradavelmente
surpreendidos com a visita de um novo amigo que não conhecíamos
pessoalmente, em nossas lides de intercâmbio — Argeu Pinto dos Santos —,
logo identificado por um de nossos companheiros que lhe foi filho na
experiência física. Espírita convicto, Argeu militou na mediunidade, em
Cachoeiro de Itapemirim, Estado do Espírito Santo, trazendo-nos na presente
mensagem o resultado de seus próprios estudos.
Meus amigos, vossa leitura desta noite abordou, com oportunos ensinamentos,
a mediunidade e o amor fraterno. Dois temas vivos que se conjugam,
encarecendo a excelência do serviço que repousa em nossas mãos.
É importante lembrar que o Espiritismo é o Evangelho redivivo e puro,
atuando, de novo, entre os homens, a fim de que não sejamos inclinados ao
vampirismo, admiravelmente rotulado de preciosidade doutrinal.
De nossa parte, usufruimos também o privilégio de partilhar a tarefa
espírita, no setor mediúnico, em passado próximo.
E, agora, cremo-nos habilitados a declarar que espiritista algum, enquanto
na carne, consegue avaliar em toda a sua extensão o tesouro de bênçãos que
lhe enriquece a alma, porque semelhantes bênçãos exprimem o trabalho e a
responsabilidade com que devemos assimilar a nossa Doutrina, venerável
escultora do caráter cristão em nossa própria vida.
O nosso Ênio dará testemunho das notícias que vos trazemos.
Depois do regresso à Pátria Espiritual, reconhecemos que a mediunidade não
basta só por si. Espíritos que se graduam na esfera do sentimento, nos mais
diversos tons evolutivos, acompanham de perto a marcha humana e é preciso
evitar a companhia daqueles irmãos que, embora exonerados do corpo denso,
jazem ainda profundamente vinculados às sensações inferiores do campo
físico, a fim de que não venhamos a transformar o nosso movimento de
elevação moral em descida às zonas escuras de subnivel.
É fácil observar que muitos companheiros começam abraçando a fé e acabam
esposando preocupações subalternas.
Muitos iniciam o apostolado, assinalando a grandeza dos compromissos que
assumem, entretanto, por vezes, olvidam, apressados, que Espiritismo é
ascensão com Jesus ao calvário de nosso acrisolamento para a Luz Divina e
confiam-se a entidades que ainda sofrem o fascínio do comércio malsão,
metamorfoseando-Se em caçadores do êxito mundano, no qual tantos nos
barateiam o estandarte de princípios sagrados, convertendo-o na bandeira
cinzenta do desânimo para todos os que nos batem à porta, suspirando por
socorro espiritual e terminando, desapontados, diante do nosso exemplo
desencorajador.
A mediunidade, para triunfar, precisa reconhecer que o amor fraterno é a
chama capaz de purificá-la.
Compete-nos hipotecar nossas forças à obra de redenção das nossas
atividades, porqüanto não é justo oferecer pão ao faminto e agasalho aos
nus, relegando-lhes o espírito à sombra da ignorância.
É louvável dar o que temos nas mãos; contudo, é mais importante dar nossas
mãos para que o ajudado aprenda a ajudar-se.
Consideramos indispensável uma campanha de boa-vontade, suscetível de alijar
da nossa luta benemérita tudo aquilo que represente acomodação com o menor
esforço, para que o nosso ideal traduza lição de Nosso Senhor Jesus-Cristo
em nossas atitudes de cada hora.
Para isso, porém, é inadiável o esforço ingente de nossa própria
regeneração, de modo a não perdermos tanta esperança na música das palavras
vazias.
Devemos estabelecer a competência mediúnica em base de solidariedade humana,
a expressar-se em serviço aos semelhantes, entendendo, no entanto, que
ninguém pode servir, ignorando como servir.
Disso decorre o impositivo de luz em nosso cérebro e em nosso coração, para
que o serviço espiritista Seja realização do Divino Mestre conosco e por
nós.
Arejemos, pois, o mundo íntimo no santuário da educação, para que a
mediunidade e o amor não se escravizem à sombra, e roguemos ao Pai Celestial
nos conceda a precisa coragem de viver o Evangelho de Jesus, hoje e sempre.
Argeu Pinto dos Santos