Evolução do Cristianismo
A história da evolução do Cristianismo é a saga do processo redentor da
criatura humana.
A Constantino, imperador do Oriente, deve-se o ato gentil da liberação da
prática da doutrina de Jesus em todo o império, eliminando qualquer tipo de
perseguição ou limite.
Não havendo ele próprio conseguido lograr a convicção profunda dos conteúdos do
Evangelho, tornou-se responsável pelos desmandos que surgiram, pelas
interpolações e interpretações errôneas, bem como pela adoção de alguns cultos
pagãos introduzidos na mensagem singela e pulcra do Homem de Nazaré.
Adorador de Mitra, o Deus-Sol do Zoroastrismo, mas também com outras
interpretações, contribuiu grandemente para a idolatria, permitiu que os adeptos
do Cristianismo em formulação, acautelados pela fortuna e outros bens materiais,
perseguissem os antigos politeístas, transformassem os seus templos em catedrais
faustosas.
Demolindo as antigas construções, mandavam erguer sobre elas, com nova
indumentária arquitetônica, os santuários, nos quais os adeptos de Jesus
deveriam reunir-se, com o olvido das pregações diante do altar sublime da
natureza: nas praias, nas estradas, nas montanhas de Israel...
Logo contribuíram para que o imperador se transformasse no responsável pelo voto
de Minerva, nos concílios, reuniões e discussões que se multiplicavam em
abundância, em atendimento às paixões dos líderes denominados bispos,
presunçosos uns, ignorantes outros, que se acusavam reciprocamente de heresias,
em adulteração desrespeitosa aos ensinos de Jesus.
Constantino também se tornou responsável pela substituição dos mártires,
tornados santos nos altares de ouro e de mármore dos antigos templos, em lugar
dos ídolos pagãos.
Sua genitora, Helena, em viagem à terra santa, tornou-se responsável pela
identificação da cruz em que morreu o Mestre, dos lugares em que Ele e os Seus
apóstolos viveram, mandando erguer catedrais majestosas, iniciando o culto a
relíquias, às quais atribuía poderes miraculosos e curativos, criando, pela rica
imaginação, identificações, algumas delas muito longe da legitimidade...
Ainda no século IV, o papa Dâmaso convidou São Jerônimo para selecionar os
textos considerados verdadeiros, canônicos, a cujo mister o patrístico aplicou
vinte e cinco anos na gruta de Belém, comparando-os cuidadosamente com outros
conceitos bíblicos, o que resultou na elaboração da Vulgata Latina. A essa
coletânea deu-se o nome de estudos canônicos, legítimos, reconhecidos como
verdadeiros pela Igreja de então.
As demais anotações, mais tarde introduzidas por outros estudiosos em O Novo
Testamento, os deuterocanônicos, vêm sendo avaliadas através dos séculos, nos
sucessivos concílios que trouxeram mais danos que esclarecimentos em torno da
palavra do Senhor.
Nesse mesmo século IV, disputavam entre si as autoridades imperiais e
eclesiásticas, enquanto o bispo de Roma, Dâmaso, permitia-se o luxo e a
extravagância que o cargo lhe concedia, semelhando-se aos grandes generais e
governantes das imensas metrópoles, muitíssimo distante do Rabi galileu...
Roma exigia ser a capital cristã do mundo, sob a justificativa de que os
apóstolos do mestre, Pedro e, a seguir, Paulo, elegeram-na para o holocausto das
próprias vidas, e as missas, que então eram celebradas, sofreram a introdução
dos cultos do Oriente, transformando o hábito singelo de orar em complicadas
fórmulas, ora em grego, depois em latim, que as massas não podiam entender.
Posteriormente, surgiram os grandes dissídios, tais como os ortodoxos gregos,
russos, que realizavam os seus cultos dentro das tradições dos respectivos
países, os coptas e outros mais complicados...
Milão, que se tornara tão importante quanto Roma, tinha em Ambrósio o seu líder
máximo, que, apaixonado, desviara-se completamente, logo depois do culto ao
Senhor para o das imagens e para a venda de tudo quanto representasse a herança
dos abençoados mártires, dando prosseguimento às alucinações da genitora de
Constantino, que se atribuía o privilégio de haver encontrado, como já referido,
a cruz em que Jesus morrera, com as palavras que lhe foram colocadas
ironicamente pelos romanos, em refinada zombaria ao Sinédrio.
Logo depois, a mesma Helena atreveu-se a transformar alguns dos seus cravos em
objeto de extravagância na coroa do filho, atribuindo-lhe proteção divina, o que
dava lugar a superstições e desmandos acompanhados de falsificações e injúrias.
Cristãos, nessa época, passaram a matar pagãos, e quando Teodósio, mais tarde
imperador de Roma, apresentou-se como cristão e desejou aplicar punições àqueles
que cometeram hediondos crimes, Ambrósio exigiu-lhe retratação pública e
humilhante para conceder-lhe o perdão.
A doutrina do amor e da compaixão, da misericórdia e da bondade estava
crucificada!
Esse mesmo Ambrósio, que conseguira converter Agostinho de Hipona, em Milão,
preocupava-se mais com detalhes e insignificâncias, considerando a virgindade
feminina e masculina, como fundamental, como a conduta pulcra e sublime para a
entrega a Deus, não havendo qualquer preocupação com o tormento mental e
emocional dos clérigos e sacerdotes, assim como das viúvas, das jovens e dos
rapazes que se dedicavam ao Senhor, e, para bem consagrar o novo impositivo que
se tornaria dogma da religião nascente, introduziu o uso de indumentárias
brancas e reluzentes, que significavam pureza, mesmo que o mundo interior fosse
o sepulcro onde o cadáver das ansiedades pessoais descompunha-se.
Jerônimo, por sua vez, deixou-se também arrebatar pela loucura do mesmo século e
tornou-se terrível adversário da palavra de Jesus, ao adulterá-la, fazendo-o com
intercalações nefastas, intromissões que não se justificam, e mistura dos
conceitos pagãos com os cristãos para o logro da dominação imperial.
O avanço do poder temporal deságua nas Cruzadas de rudes e perversas memórias,
com os desastres e mortes de centenas de milhares de vidas de ambos os lados,
cristãos e mulçumanos durante alguns séculos de horror, para a defesa da
sepultura vazia que Ele deixara em Jerusalém...
Até o século XVI o tormento medieval, estabelecido pelos denominados Pais da
Igreja (Patrística), corrompeu, desvitalizou e transformou a revolução sublime
do Evangelho em cruz e fogueira, em morte e degradação, em poder temporal e
mentira...
Novos tempos surgiram, porém, com Martinho Lutero e outros que não se submeteram
às injunções poderosas do culto pagão.
A Reforma abriu espaços no estreito cubículo mental no qual foi encarcerada a
doutrina do Mestre e ventos novos sopraram para retirar o mofo acumulado e
derrubar algumas muralhas segregacionistas...
Logo depois, no entanto, surgiram as divisões e as controvérsias entre os
discípulos de Lutero, ante a sua própria defecção, e apareceram as mais variadas
denominações cada uma delas, como a verdadeira.
Nesse ínterim, quando a esperança não mais brilhava nas almas aflitas, chegou à
humanidade o Consolador, e os imortais conclamaram os novos discípulos do
Evangelho a voltarem às praias formosas do Genesaré, à natureza encantadora, aos
abençoados fenômenos da compaixão e da misericórdia em que Jesus permanece como
a figura máxima de humildade e sacrifício pessoal.
Investidas terríveis das hordas do mal novamente dão-se amiúde para prejudicar a
reabilitação da criatura humana e a renovação da sociedade como um todo.
Começam a surgiu os primeiros disparates, os desrespeitos e impositivos
egotistas de alguns profitentes, que elaboram e apresentam necessidades falsas
para adaptações do pensamento espírita às paixões em predomínio, e surgem
correntes de dissídio, as acusações recíprocas de lideranças, de médiuns, de
Instituições, iguais ao mesmo fenômeno do passado que se repete...
Espíritas-cristãos, tende cuidado!
O mundo, o século são sedutores, fascinantes. As suas falácias sutis e
declaradas são perversas, enganosas.
Tende tento! Não sois diferentes daqueles homens e mulheres que, num momento, se
dedicavam a Jesus e, logo depois, corrompiam a Sua palavra.
Assumistes o compromisso, antes do berço, de restaurardes a paz íntima perdida,
as lições sublimes que vós mesmos deturpastes no passado, quando contribuístes
em favor do naufrágio da fé pura e racional...
O Centro Espírita merece respeito, fidelidade ao compromisso nele estabelecido:
iluminar consciências e consolar sentimentos.
Obreiros invisíveis laboram incessantemente em vosso benefício. Como vedes
somente o exterior, não tendes a dimensão do que se passa nele além das
vibrações materiais.
Considerai-o, oferecei a esse núcleo de oração, a essa oficina que é um
educandário, um templo, um hospital transcendental, o respeito e a dedicação
indispensáveis que são exigidos para o fiel cumprimento das responsabilidades
abraçadas.
A modesta estrebaria onde Jesus nasceu, a vergonhosa cruz em que Ele foi levado
a holocausto, ou a radiosa manhã da ressurreição, devem, permanecer vivas em
nossa memória, a fim de serem preservadas a Sua vida e o Seu amor pela
humanidade.
Sois as mãos, a voz, o sentimento dEle no mundo moderno.
Vivei por definitivo conforme Ele o fez e ensinou a fazer, mantende cuidado com
as ilusões tão rápidas como luminosas bolhas de sabão que explodem ao contato do
ar ou de encontro a qualquer objeto perfurante.
O Consolador triunfará, porque é o próprio Jesus de volta ao mundo para
iluminá-lo e conduzi-lo no rumo da sua próxima regeneração.
Vianna de Carvalho