O Maior Pecado
Um sacerdote sábio, desejando ensinar o caminho do Céu aos crentes que
confiavam nele, rogou a Jesus, depois de longas meditações e sacrifícios, lhe
fosse revelado qual o maior impedimento contra a iluminação espiritual.
Com efeito, de mente limpa, dormiu e sonhou que era conduzido à Porta Celestial.
Nimbado de esplendor, um anjo recebeu-o, benevolente.
- Mensageiro de Deus! - clamou o sacerdote - venho rogar a verdade para as
ovelhas humanas que me seguem...
- Que pretendes saber? - indagou a entidade angélica.
- Peço esclarecimento sobre o maior obstáculo para a alma, na marcha para Deus.
Sei que temos sete pecados mortais que aniquilam em nós a graça divina, na
ascensão para o Alto. Sob a influência de semelhantes monstros, rola o espírito
no despenhadeiro infernal. Entretanto, desejaria explicações mais claras, quanto
ao problema do mal, porque nossas faltas variam ao infinito.
O anjo sorriu e considerou:
- A solução é simples. Quais são os pecados a que te referes?
O ministro da fé movimentou os dedos e respondeu:
- Soberba, avareza, luxúria, ira, gula, inveja e preguiça. Deles nascem as
demais imperfeições.
O mensageiro, contudo, acrescentou:
- No fundo, porém, podemos reduzi-los à unidade. Todos os pecados, inclusive os
mortais, procedem de uma fonte única.
O sacerdote, curioso, suplicou:
- Oh! anjo amigo, aclara-me o entendimento! Há muitos aprendizes, na Terra,
aguardando-me a palavra!...
O emissário da Esfera Superior, sem qualquer presunção de superioridade, passou
a elucidar:
- Escuta e atende!
Se o soberbo trabalhasse para o bem de todos, não encontraria ensejo de cultivar
o orgulho e a vaidade que o levam a acreditar-se ponto central do universo.
Se o avarento conhecesse a vantagem do suor, na felicidade dos semelhantes, não
se entregaria à volúpia da posse que o obriga a acumular dinheiro inutilmente.
Se o homem inclinado à tentação dos prazeres fáceis aprendesse a despender as
próprias forças em favor da elevação coletiva, não disporia de ocasião para
prender-se às paixões aniquiladoras que o arrastam ao crime.
Se as pessoas facilmente irascíveis estivessem dispostas a servir de acordo com
os desígnios divinos, não envenenariam a própria saúde com remorsos e angústias
injustificáveis.
Se o guloso vivesse atento à tarefa construtiva que lhe cabe no mundo, não se
escravizaria aos apetites devastadores que lhe arruínam o corpo e a alma.
E se o invejoso utilizasse a existência, no trabalho digno, não gastaria tempo
acompanhando maliciosamente as iniciativas do próximo, complicando o próprio
destino...
Como vê, o maior dos pecados, a causa primordial de todos os males, é a
preguiça.
Dá trabalho edificante às tuas ovelhas e convence-te de que, na posse do
serviço, não se afastarão do caminho justo..
O sacerdote não mais teve o que perguntar.
Despertou, edificado, e, do dia seguinte em diante, o povo reparou que o
ministro modificara as pregações.
Neio Lúcio