Os Dois Cântaros

Um moço religioso, que vivia entre os monges do deserto, sentindo-se pouco inteligente e incapaz de guardar os ensinamentos que recebia, procurou o mais velho sábio dos anacoretas e disse-lhe:
- Tenho um grande desgosto, meu pai. Apesar dos esforços constantes que faço, não chego a conservar na memória, durante muito tempo, as instruções que, para boa conduta na vida, recebo dos mestres. Vão, também, para o esquecimento, os trechos mais belos que leio, diariamente, nos Santos Evangelhos!
O santo, que tinha em sua cela dois cântaros vazios, disse-lhe:
- Meus filho, toma um daqueles cântaros; põe um pouco d’água; lava-o e depois, cuidadosamente; enxuga-o com o teu próprio hábito e deixa-o ficar no lugar que está.
Maravilhoso, embora, com tais palavras, fez o moço exatamente o que o velho monge lhe determinara.
Concluída a tarefa, o ancião perguntou-lhe qual dos cântaros estava mais limpo, mais claro e puro. O solitário tomou nas mãos o cântaro que acabara de enxugar, e respondeu:
- Este, por certo, está mais limpo. Lavei-o com cuidado.
Disse-lhe, então, o sábio:
- E, no entanto, reparará bem, meu filho, que esse cântaro não mais retém vestígio algum da água que o purificou. Também aquele que ouve, confiantemente, a palavra de Deus, embora não grave na memória o teor dos santos ensinamentos, traz o coração tão puro como um cântaro lavado.


Malba Tahan