Dúvida Atroz
Ela casou-se bem jovem. A primeira decepção no casamento,
apesar dos sonhos de maternidade antes acalentados, foi descobrir que o marido
era estéril. A vida do casal, porém, prosseguiu. Construíram a vida a dois, sem
pensar em adoção.
Tinham tudo, desde estável situação financeira – que lhes permitiam fácil acesso
à cultura e ao lazer – até arrojados planos de empreendimentos comerciais,
viagens, etc. Mas a esterilidade do marido provocou certa melancolia. Perderam o
gosto pelo diálogo e se tornaram apenas parceiros.
Após quase 15 anos de casamento e devido principalmente ao distanciamento da
vida a dois, ela permitiu-se o envolvimento com um colega de trabalho, também
casado. A amizade transformou-se em aventura que resultou em gravidez, cujo
colega não assume.
Agora ela indaga: devo abortar para salvar o casamento, já que a gravidez foi
mera aventura? Afinal, como encarar um marido estéril com uma gravidez?
Descobrirá de imediato a infidelidade da esposa. E há um detalhe em suas
angústias: sonha todo dia com a mãe, morta há dez anos, demonstrando aflição e
pedindo para que não aborte.
Esta é uma situação real que reflete inúmeros outros casos semelhantes. O caso
comporta muitas considerações, mas procuremos ater-nos às principais:
a) Um erro não justifica outro. O aborto será um crime, pois o filho nada tem a
ver com as aventuras dos pais;
b) É melhor contar a verdade ao marido, preparando-se para as dificuldades
inevitáveis do confronto, do que cometer outro erro; não será fácil o marido
assimilar a realidade, mas tentar enganá-lo será muito pior;
c) O correto é assumir o filho e amá-lo, afinal é seu filho;
d) Os sonhos com a mãe demonstram a realidade da sobrevivência e os esforços
daqueles que foram antes para que não compliquemos nossas quedas morais.
Abortar nunca! Não temos esse direito. A vida não nos pertence...
Por outro lado, diante de erros que tenhamos cometido, nada de culpar-se.
Assumir a responsabilidade dos próprios atos é o melhor caminho para a paz
interior. Digam o que quiserem, o importante é estar em paz com a consciência. E
estar em paz com a consciência é não ter do que se arrepender depois. Diz um
grande sábio que o primeiro sinal de infração moral é o remorso... Então, vale a
pena pensar.
Orson Carrara