Notícias de Maria Raimunda

Maria José Raimunda da Silva...
Era apenas Maria, entre os parentes.
Viveu de sacrifícios, cada dia,
A carregar crianças e doentes.

Se convidada para festas,
Natalícios de Antonio ou de Alencar,
Respondia colocando as mãos na testa:
- “Não posso ir, preciso trabalhar”.

Noventa e quatro anos de existência!...
Sem se importar com isso,
Morreu Maria, a mãe da paciência,
Entregando-se a Deus, mas pensando em serviço.

De corpo inerte, e, agora em outra dimensão,
Despertou, pouco a pouco, para o caminho da libertação
Sabia-se acordada em novo leito,
Não mais sentia a dor que se lhe impunha ao peito.

Interiormente, via-se feliz,
Servidora fiel, agora transformada,
Ouvia o pipilar dos passarinhos
E entendeu que nascia a madrugada.

O enterro começou no esforço de três moças:
Lynete, Donda, Nega e mais alguns amigos,
Seguido por irmãos desencarnados
Seus afetos e laços mais antigos.

Deposta, a fim de viajar sob a grande mudança,
Levantou-se Maria, a sorrir de esperança.
Amparada por vários benfeitores,
Notou que se encontrava num montão de flores...

Desconhecendo a nova dimensão,
Fitou-os e falou enternecida:
- "Sou muito grata a todos,
Deus lhes compense a vida...".

Não dava a idéia de lembrar
As feridas do próprio sofrimento.
Nós, porém, víamos com clareza
Que ela exigia novo tratamento.

Maria, valorosa, embora manquejando,
Entrou na grande fila dos que iam pedir apoio e certidão.
No entanto, veio até nós, um anjo que lhe disse:
- “Maria, não ceda à inquietação!...”.

-Entre: A casa é sua. Venha tomar
sua certidão, seu passaporte.
O serviço que é seu, em seu próprio lugar,
Você não tem problemas ante a morte....

O anjo abraçou-a e guiou-lhe a caminhada,
Indagando o que ela, em si, mais pretendia...
Maria respondeu: - "O que mais quero, anjo bom,
É aprender a voltar para a lavanderia".


Maria Dolores