Desligamento do Mal
Antes da reencarnação, no balanço das responsabilidades que lhe competem, a
mente, acordada perante a Lei, não se vê apenas defrontada pelos resultados das
próprias culpas. Reconhece, também, o imperativo de libertar-se dos compromissos
assumidos com os sindicatos das trevas.
Para isso partilha estudos e planos referentes à estrutura do novo corpo físico
que lhe servirá por degrau decisivo no reajuste, e coopera, quanto possível,
para que seja ele talhado à feição de câmara corretiva, na qual se regenere e,
ao mesmo tempo, se isole das sugestões infelizes, capazes de lhe arruinarem os
bons propósitos.
Patronos da guerra e da desordem, que esbulhavam a confiança do povo, escolhem o
próprio encarceramento da idiotia, em que se façam despercebidos pelos antigos
comparsas das orgias de sangue e loucura, por eles mesmos transformados em lobos
inteligentes; espiões que teceram intrigas de morte e artistas que envileceram
as energias do amor, imploram olhos cegos e estreiteza de raciocínio, receosos
de voltar ao convívio dos malfeitores que , um dia, elegeram por associados e
irmãos de luta mais íntima. Criaturas insensatas, que não vacilavam em fazer a
infelicidade dos outros, solicitam nervos paralíticos ou troncos mutilados, que
os afastem dos quadrilheiros da sombra, com os quais cultivavam rebeldia e
ingratidão; e homens e mulheres, que se brutalizaram no vício, rogam a
frustração genésica e, ainda, o suplício da epiderme deformada ou purulenta, que
provoquem repugnância e conseqüente desinteresse dos vampiros, em cujos fluidos
aviltados e vômitos repelentes se compraziam nos prazeres inferiores.
Se alguma enfermidade irreversível te assinala a veste física, não percas a
paciência e aguarda o futuro. E se trazes alguém contigo, portando essa ou
aquela inibição, ajuda esse alguém a aceitar semelhante dificuldade, como sendo
a luz de uma bênção.
Para todos nós, que temos errado infinitamente, no caminho longo dos séculos,
chega sempre um minuto em que suspiramos, ansiosos, pela mudança de vida,
fatigados de nossas próprias obsessões.
Emmanuel