Outro Olhar
O pintor e documentarista francês, Hugues de Montalembert, tinha trinta e
cinco anos quando sua vida mudou drasticamente. Durante um assalto ocorrido no
ano de 1978, em Nova York, ele perdeu a visão.
Após o acidente, ele teve que se adaptar a outra realidade. Na vida, que antes
era banhada pela luz e cor, agora predominaria a escuridão.
Ele que, em sua profissão, entendia o mundo através dos olhos, fotografando
paisagens e pintando telas, encontrou-se em um mundo abstrato, composto
basicamente por sons.
Mas não se deixou abater e descobriu que a saída estava dentro dele mesmo.
Com o objetivo de reconquistar sua independência e recuperar a liberdade, ele
seguiu enfrentando a nova realidade, iniciando um processo contínuo de
autossuperação.
O primeiro obstáculo foi vencido quando aprendeu a caminhar pelas ruas
acompanhado apenas pela bengala.
Para reencontrar o prazer de viver, empreendeu viagens solitárias a lugares
distantes como Indonésia, Groenlândia e Himalaia, desenvolvendo uma
impressionante habilidade de ver sem os olhos.
Descobriu que o medo é o principal inimigo da pessoa cega. E, mesmo sem
enxergar, continuou a amar a vida.
Uma grande descoberta que fez foi quando identificou que a luz é capaz de tornar
muitas coisas invisíveis. Antes ele se ocupava tanto em olhar, que deixava de
perceber, escutar e sentir as pessoas.
Simplesmente porque seus olhos agora não podiam mais enxergar, ele passou a
conhecer as pessoas melhor, buscando o sentimento que traziam na voz, no
sorriso, no toque e na movimentação.
No constante duelo com a escuridão, acabou entrando em contato com a sua
essência, encontrando, dentro de si, características que não teria identificado
em outra situação.
Sentiu-se vitorioso, quando muitas pessoas na mesma condição sentir-se-iam
derrotadas.
Em suas novas aventuras pelo mundo contemplou paisagens, criando sua própria
visão através da somatória dos sons, movimentos e aromas que a natureza lhe
oferecia.
Aprendeu a criar imagens evocando um mundo que havia observado intensamente por
trinta e cinco anos. Tornou-se capaz de descrever uma paisagem e reconhecer sua
beleza, sem vê-la, apenas com a percepção dos demais sentidos.
Sirvamo-nos do exemplo de superação desse homem, que foi capaz de enfrentar as
dificuldades e adaptar-se com alegria a uma nova vida, não se prendendo ao
passado, pois sabia que se o fizesse, ceifaria seu futuro.
Deixemos a nossa sensibilidade fluir, descobrindo que os olhos da alma são
capazes de enxergar dimensões infinitas, que vão além do que podemos ver com os
olhos físicos.
Ainda que tenhamos uma visão perfeita, não nos tornemos cegos para a beleza e
poesia da vida.
Ver é enxergar além. É se colocar além da aparência e identificar que há um
outro mundo além do mundo real.
Momento Espírita