Coerência e Austeridade
O teu compromisso com a imortalidade é portador de grave e alta
responsabilidade. Ele diz respeito ao teu futuro espiritual, em favor do qual
deves investir os teus melhores recursos, por considerar-lhe o sentido de
elevada magnitude, em razão a sua perenidade.
Renasceste na Terra, com a destinação luminosa, a fim de libertar-te de toda e
qualquer sombra, que te vem impossibilitando o avanço na direção da plenitude e
tem sido o fator determinante dos teus conflitos e dificuldades evolutivas.
Conhecedor, que és, dos conteúdos sublimes da fé racional que haures na Doutrina
Espírita, já não podes permitir o luxo enfermiço da ignorância, nem as
justificativas infantis em torno das impossibilidades, que te cabem ultrapassar
com naturalidade e entusiasmo.
A luz que norteia os novos caminhos é bênção que vens fazendo jus pelos esforços
contínuos de libertação das mazelas que te têm acompanhado ao largo do tempo.
Não mais te detenhas nos comportamentos infelizes, aqueles que proporcionam
prazeres mórbidos, mas intoxicam a mente e pervertem os sentimentos,
agrilhoando-te às masmorras do atraso moral.
És filho de Deus, que te ama, havendo-te concedido a honra de conhecer-Lhe o
Embaixador incomparável, que se ofereceu em sacrifício espontâneo, a fim de que
pudesses fruir da vida e dessa vida que proporciona abundância.
Antes, embora sentisses a necessidade de crescer interiormente, de fruir paz, de
encantar-te com todos os contributos com que a Natureza te felicita,
encontravas-te dependente dos instintos básicos, que nutriam as paixões
primárias, impedindo-te a experiência das emoções elevadas.
Com Jesus aprisionado nas torpes celas do dogmatismo e da perversidade, das
superstições e fórmulas sacramentais, cuidando dos poderosos e olvidando-se dos
pobres de espírito, seguias hipnotizado pela ilusão das compensações concedidas
pelo arrependimento antes da morte, aguardando um céu de ociosidade e
contemplações eternas, ou receando o terrível inferno onde não vigem a
misericórdia, nem a compaixão.
Desorientado, talvez, pela impropriedade de tais conceituações, abraçaste o
materialismo imediatista e frustrante, buscando ignorar o sentido nobre da vida,
buscando fruir tudo quanto o momento podia oferecer, permanecendo, no entanto,
interiormente vazio de significado e desestimulado para a luta de renovação.
Nesse momento significativo, porém, encontraste Jesus descrucificado pelo
Espiritismo, o companheiro dos desafortunados e dos vencidos, dos tristes e dos
oprimidos, dos que choram sem conforto nem esperança, os viandantes sem roteiro,
o qual, de braços abertos, a todos alberga no Seu generoso coração de Mestre
irretocável.
Ouvindo-Lhe dos lábios sensíveis a melodia imperecível do Sermão da Montanha,
renasceram, na tua alma, as esperanças, renovaram-se os teus propósitos de
trabalho, renasceste para a vida e, agora, fascinado pelo Seu exemplo de amor,
tentas seguir-Lhe as luminosas pegadas pelos ínvios caminhos da atualidade
aflita.
Não vaciles, nem te permitas à paralisação da tua marcha.
Avança resoluto e conquista o tempo, recuperando aquele malbaratado na
insensatez e na desorientação.
O teu compromisso com Jesus é formal e trata-se de um contrato sério para todos
os teus dias atuais e futuros.
A Sua doutrina é feita de energia e de vida, não havendo lugar, nos seus
postulados, para a indecisão, a amargura, o arrependimento da dedicação, as
negociações ilícitas muito do agrado da frivolidade humana.
Aceitaste-Lhe a companhia e a diretriz, havendo-te prometido fidelidade e
coerência existencial em relação aos seus ensinamentos.
A coerência te facultará a austeridade na conduta mental, verbal e
comportamental, não anuindo os vícios que predominam nos grupos sociais e aos
quais eras afeiçoado, mudando de atitude com energia e demonstrando que já não
pertences mais aos círculos dos comportamentos vãos e atormentados.
A transformação moral a que te deves impor inicia-se através dos novos hábitos
mentais e edificantes, deixando, à margem, aqueles que te intoxicavam e
produziam tormentos de vária ordem.
As paisagens psíquicas a que te afeiçoaste estarão sempre enriquecidas de
quadros cambiantes de beleza enriquecedora que te falam de amor e de mansidão,
de alegria e de trabalho, de esforço regenerativo e de aprendizagem.
Quando alguém sai de uma furna onde se homiziava demoradamente, sofre a cegueira
produzida pela feérica e abundante luz. Faz-se necessário absorvê-la
cuidadosamente, adaptando-lhe a vista e acomodando-se ao deslumbramento que os
olhos enfrentam e se tornará o novo mundo de observação.
É natural, portanto, que, ao sair das densas trevas da ignorância do bem e do
abismo em sombras dos torpes comportamentos, a nova paisagem produza um choque
inicial, fascinando a pouco e pouco, o observador que a descobre.
Cultivando a saúde emocional, o candidato à ascensão não tergiversa, não sendo
gentil para com os outros através da defecção na própria crença, mas,
delicadamente, declinando das contribuições perturbadoras e mantendo-se íntegro,
em grande fidelidade, a tudo aquilo que hoje faz parte da sua agenda de
comportamento iluminativo.
A sua grande preocupação deve cingir-se ao combate às imperfeições que ainda o
atraem aos hábitos que reconhece doentios e de que se deseja libertar, não
facultando espaços para os devaneios inquietadores a que se encontrava
acostumado.
Uma agenda de preocupações novas, mais com o interior do que com o exterior da
existência, toma-lhe os campos da mente e enriquece-se, cada vez mais, ao
constatar a grandeza da existência que lhe passava despercebida, porque sempre
estava entulhada pelo lixo das coisas irrelevantes.
Automaticamente, modifica-lhe a área da saúde e do bem-estar, respirando melhor
o oxigênio da esperança e da alegria real, modificando-se significativamente e
de tal forma que se surpreende ante os acontecimentos que passam a se suceder no
seu caminho.
Sem dúvida, é necessária a coerência entre o bem que se crê e como se comporta,
facultando austeridade dinâmica e não agressiva em relação a tudo e a todos.
Essa coerência sempre a mantiveram os primeiros discípulos de Jesus, alguns dos
quais abraçaram o martírio, jubilosos, cantando as glórias do Céu com olvido dos
tormentos da Terra.
Poderiam ter abjurado, porque lhes era concedido esse direito, sob a
justificativa de que, ficando no corpo, poderiam servir mais, trabalhar mais
pela divulgação do pensamento de Jesus. No entanto, sabiam que, nessa conduta,
ocultava-se o medo do testemunho de provar a imortalidade e a mansidão do Rabi.
Foi exatamente essa coragem estoica e doce que surpreendia os perseguidores que
mais se encolerizavam, temendo-lhe o sublime contágio...
Como hoje não mais existem as perseguições declaradas públicas e legais, tem em
mente que as arenas são muito mais amplas e perigosas, porque se iniciam nas
fronteiras do sentimento pessoal, alargando-se na direção do mundo inteiro.
Mantém-te vigilante, portanto, coerente e austero na tua vivência com Jesus.
Joanna de Ângelis