Se Soubesses
Se soubesses quão venenoso é o conteúdo de fel a tisnar o cálice da aversão,
decerto compreenderias que todo golpe de crueldade não é senão desafio à tua
capacidade de entendimento.
Se soubesses a trama de sombra que freme, perturbadora em torno da palavra
infeliz que proferes, na crítica à luta alheia, preferirias amargar no silêncio
as feridas de tua mágoa, esperando que o tempo lhes ofereça a necessária
medicação.
Se soubesses a quantidade dos crimes, oriundos da revolta e da queixa,
escolherias padecer toda sorte de sofrimento antes que reclamar consideração e
justiça em teu próprio favor.
Se soubesses a multidão de males que a vingança provoca, esquecerias sem custo
os braseiros de cor que a calúnia te arremessa à existência.
Lembra-te de que o ódio é o grande fornecedor das prisões e de que a cólera é
responsável pela maior parte das moléstias que infelicitam a vida e guarda o
coração na grande serenidade, se te propões conservar em ti mesmo o tesouro da
paz e a bênção da segurança.
Ainda mesmo que alguém te ameace com o gláudio da morte, desculpa e segue
adiante, porque as vítimas ajustadas aos marcos do Bem Eterno elevam-se de
nível, enquanto que os ofensores, ainda mesmo os aparentemente mais dignos,
descem aos princípios do tempo para o acerto reparador.
De qualquer modo, se a aflição te procura, cala e perdoa sempre, porque se o
Mestre nos exortou ao amor pelos inimigos, também nos advertiu que a mão erguida
à delinqüência da espada, agora, hoje ou amanhã, na espada fenecerá.
Emmanuel