Palestra Educativa

Na noite de 16 de fevereiro de 1956, fomos felicitados com a visita do nosso amigo espiritual, P.Comanducci, que foi médium extremamente devotado à causa do bem, cuja palavra passou a enfeixar a palestra educativa, aqui expressa:


Se há entidades desencarnadas que obsidiam criaturas humanas, temos criaturas humanas que vampirizam as entidades desencarnadas.

Isso é extremamente sabido.

Morando hoje, porém, no mundo dos Espíritos, em verdade não sei onde é maior a percentagem daquelas mentes que se consagram a semelhantes explorações.

Se da Terra para o além-túmulo, se do além-túmulo para a Terra. . .

Daí a necessidade do mais amplo cuidado nas instituições espírita-cristãs, em nossas lutas no intercâmbio.

Temos por diretriz clara e simples a Codificação do Missionário excelso que no século passado se entregou de alma e corpo à exumação dos princípios evangélicos, para trazer-nos, em nome do Cristo, a edificação de nossa fé.

Ainda assim, somos largamente tentados a favorecer a movimentação descendente do serviço que devemos à Humanidade, de vez que o menor esforço é uma espécie de “tiririca” no campo doutrinário em que fomos situados para aprender e servir.

Em plena fase de nossa iniciação no conhecimento espírita, habitualmente tomamos contacto com amigos desencarnados, detentores de conhecimento menos elevado que o nosso, a se nos ajustarem ao modo de ser e de viver, através dos fios da afetividade nem sempre bem conduzida, e, de imediato, somos induzidos aos problemas do favor.

Dificuldades morais cristalizam-se, obscuras, porque, se há desencarnados com vocação da sanguessuga, há muitos companheiros na carne com a inquietação da “chupeta”.

E ao invés do trabalho de recuperação de nossos próprios destinos, muitas vezes somos vítimas das próprias distrações, criando desajustes que, hoje aparentemente inofensivos, nos aguardam, amanhã, à feição de grandes desequilíbrios.

É necessário intensificar em nossas casas de ação um vasto trabalho de estudo e discernimento, para que a embarcação de nosso ideal não permaneça à matraca sobre as águas traiçoeiras da preguiça e da mistificação.

Não encontramos nos livros do Codificador qualquer conselho a determinados tipos de requisições ao mundo espiritual.

Não vemos Allan Kardec organizando reuniões ou círculos de prece para atender a comezinhas questões da luta humana, questões essas que exprimem lições indispensáveis à consolidação de nossa fé operosa e construtiva.

Não encontramos no Evangelho, fonte máter do Espiritismo, em suas linhas essenciais, qualquer atitude do Cristo que assegure imunidades à magia da delinqüência.

Decerto, observamos o Senhor cercado por doentes que reclamavam alívio...

Vemo-lo, seguido de mães sofredoras, de crianças sem lar, de velhos sem esperança, de mutilados sem rumo, suplicando luz e coragem, amparo e esclarecimento, de modo a superarem mazelas e fraquezas, e reparamo-lo distribuindo o remédio, o socorro moral, a consolação e a bênção, a frase compassiva e o socorro de amor...

Entretanto, nunca vimos o Excelso Benfeitor, junto de romanos influentes, cogitar de propinas materiais a benefício dos aprendizes da Boa-Nova, não observamos a fé procurando impetrar o apoio celeste para matrimônios de força, para diminuir querelas na justiça humana, nem para a solução de quaisquer assuntos de natureza inferior, que, atinentes à experiência carnal, servem simplesmente como recursos de aprendizado, no campo de provas em que somos naturalmente localizados na Terra, para a consumação de nosso resgate ou para a elevação de nossas experiências.

Eis a razão pela qual, na posição de médium desencarnado que agora somos, podemos assegurar-vos que qualquer displicência da nossa parte, no assunto em lide; gera problemas muito difíceis para a nossa vida no Além, porquanto, se determinadas soluções reclamam amor, exigem também fortaleza de ânimo, para atingirem o desejável remate, com a dignidade precisa.

Não podemos escorraçar os que rogam obséquios do Além, em muitas ocasiões com vistas à criminalidade, mas não será lícito contemporizar com o intuito perverso que, muitas vezes, lhes dita os impulsos.

Indiscutivelmente, não podemos abraçar a tolerância com o mal, mas não será justo fugir à paciência, em benefício das vítimas dele, para que o espinheiro das trevas seja extirpado da região de serviço em que o Senhor nos localiza.

Muitos daqueles que hoje indagam pela possibilidade de cooperação inferior, amanhã podem solicitar o concurso genuíno do Céu.

Daí a nossa condição de hífens da caridade entre desencarnados menos esclarecidos e amigos humanos menos avisados, e, daí, o imperativo de muita serenidade, com o Evangelho do Senhor a reger a existência, para que não venhamos a escorregar no desfiladeiro da sombra. .

É necessário estender mãos abertas e fraternais aos infelizes que se fazem vitimas da ignorância e da má-fé, contudo é indispensável que nosso coração não se imante aos propósitos menos dignos de que são portadores, a fim de que estejamos, no Espiritismo e na Mediunidade, atentos aos nobres deveres que nos prendem aos compromissos assumidos.

Na vida espiritual, encontrei muitos obstáculos que até hoje ainda não consegui de todo liquidar, em razão de minha imprevidência no trato com osinteres8es da alma. .

É por isso que, ao nos comunicarmos convosco, nesta noite, solicitai a todos os companheiros, presentes e ausentes, cautela contra o menor esforço, o terrível escalracho que nos ameaça a esfera de manifestações. É por esse motivo que vos pedimos estudo e boa-vontade.

Não nos reportamos, no entanto, simplesmente ao ato de ler.

Leitura só por si, na alimentação da alma, equivale a simples ingestão de alimentos na sustentação do corpo.

Imprescindíveis se fazem a meditação e a aplicação do conhecimento superior para o acrisolamento do espírito, tanto quanto são necessárias a digestão e a assimilação dos valores ingeridos para a saúde e a robustez do veículo carnal de que nos utilizamos na Terra.

A alma necessita incorporar a si mesma os recursos que lhe são administrados pela Providência Divina, através das divinas instruções que fluem do Evangelho, que se derrama da Codificação Kardequiana e que vertem das mensagens de elevado teor, para que esteja realmente em dia com as obrigações que lhe cabem no mundo.

Procuremos, assim, a nossa posição de aprendizes fiéis ao Cristo e de trabalhadores leais da nossa Causa, porque, segundo as facilidades do intercâmbio, estabelecidas em nossos templos de caridade e de fé, ou faremos do Espiritismo um oráculo tendencioso e tumultuário, para a satisfação de baixos caprichos humanos, ou convertê-lo-emos no grande santuário de nossa ascensão para a Divina Imortalidade, através da sublimação de nossa vida.


P. Comanducci