Carta às Famílias

É certo que, sobre a Terra
Nas lutas de expiação,
Muita vez, o lar se forma
Para a dor da redenção.

Por vezes, os inimigos
Das existências passadas
Recebem o mesmo sangue
Em lutas amarguradas.

É o resgate doloroso,
A algema que, no futuro,
Transforma o ódio tigrino
Em tesouros do amor puro.

Eis aí porque, não raro,
Nessa prova que redime,
Irmãos surgem contra irmãos,
Raiando até pelo crime.

Mas a dor, a grande dor
Que reforma toda a gente,
Recolhe-os no seu regaço,
Fraterniza-os novamente.

Por essa razão, amigos,
Todo o ensino em substância,
É que a paz do lar terrestre
Depende da tolerância.

Falando em particular,
Peço-te, pois, meu irmão,
Que faças de tua casa
O instituto da afeição.

Não te esqueças que em família
A mais santa autoridade
É a que nasce da energia
Que não desdenha a bondade.

A fim de seres ouvido,
Recorda que o verbo dar
Na caravana efetiva
Precede o verbo ensinar.

Jamais te queixes dos teus,
Seja em qualquer confidência.
Muita vez, nos desabafos,
Há muitas maledicência.

Sem que repartas no mundo
A fé e o amor com os teus,
Não pode dar no caminho
Os sublimes dons de Deus.

Há lutas em tua casa,
Atritos e desavenças?
Isso é a sombra em que se prova
A claridade da crença.

Na noite de cada dia,
Nas luzes das orações,
Envia a Deus os apelos
De tuas inquietações.

Quanto ao mais, teu sacrifício
É a santa expressão de dor,
Purificando a família
No plano eterno do Amor.


Casimiro Cunha