Milagre e Demônio
Antes de quaisquer considerações, conheçamos as definições
dessas palavras. Milagre, segundo o dicionário, quer dizer fato que se atribui a
causas sobrenaturais ou efeito cuja causa escapa à razão humana; demônio quer
dizer, ainda segundo o dicionário, gênio do mal, anjo caído.
As duas palavras são vazias de sentido pois ambas definem, respectivamente, um
acontecimento e um ser que não existem. É simples: basta observar atentamente as
definições. Nada há de sobrenatural. Ao contrário tudo é natural, perfeitamente
enquadrado em leis naturais estabelecidas pelo Criador. O que pode ocorrer é que
temporariamente não podemos compreender determinados fatos. E também não escapam
à razão humana, pois esta não está restrita ao acanhado cenário do mundo.
Mas, atualmente, com as pesquisas que avançam aquilo que era incompreendido
passa a ser compreendido. Quem afirmaria (isto para usar um único exemplo), há
mais de um século a possibilidade de comunicação, à distância com outra pessoa,
através do usual aparelho que hoje denominamos telefone? Seria um milagre no
passado. Hoje já integra o cotidiano da vida humana. Curas inexplicáveis,
aparições surpreendentes, fenômenos que causam grande admiração já não são mais
milagres. O conhecimento da verdadeira natureza humana – que transcende os
limites da vida material – e da possibilidade real da comunicação entre os
chamados vivos e os considerados mortos (e acrescente-se de sua permanente
intervenção nos caminhos humanos), derruba qualquer tentativa de classificação
desses fatos como sendo sobrenaturais ou milagrosos.
O mesmo se dá com a palavra demônio. Como conceber a expressão anjo caído ou
gênio do mal, diante da bondade de Deus, manifesta em tantas belezas naturais e
provas irrecusáveis da existência de um Pai extremamente amoroso? Como poderia
ter Ele, o Criador de todas as coisas e de todos os seres, um concorrente? Ou
também permitir a existência de um gênio do mal? E ainda como estar incapaz de
enfrentar os poderes de tal gênio? E mais, como que leis soberanas e sábias
permitiriam a decaída de um anjo?
Que ninguém tema nem se assuste. Diabo não existe! Essa idéia raia pelo absurdo.
E milagre é apenas um fato ainda incompreendido. As más ações, a conduta
reprovável, estas sim caracterizam um demônio interior no ser humano, requerendo
corrigenda. E que milagre seja o esforço pela renovação de propósitos no bem. É
o que ensina o Espiritismo.
Orson Carrara