Nem Todos os Aflitos
A provação é um desafio que poucos suportam, lição que raros aprendem.
Depois de regulares períodos de paz e ordem, a alma é visitada pela provação
que, em nome da Sabedoria Divina, lhe afere os valores e conquistas.
Raros, porém, são aqueles que a recebem dignamente.
O impulsivo, quase sempre, converte-a em falta grave.
O impaciente faz dela a escura paisagem do desespero, onde perde as melhores
oportunidades de servir.
O triste desvaloriza-lhe as sugestões e dorme sobre as probabilidades de
auto-superação, em longas e pesadas horas de choro e desalento.
O ingrato transforma-a em calhau com que apedreja o nome e o serviço de
companheiros e vizinhos.
O indiferente foge-lhe aos avisos como quem escapa impensadamente da orientadora
que lhe renovaria os destinos.
O leviano esquece-lhe os ensinamentos e perde o ensejo de elevar-se, por sua
influência, a planos mais altos.
O espírito prudente, entretanto, recebe a provação qual o oleiro que encontra no
fogo o único recurso para imprimir solidez e beleza ao vaso que o gênio
idealiza.
Se a tempestade purifica a atmosfera e se o fel, por vezes, é o exclusivo
medicamento da cura, a provação é a porta de acesso ao engrandecimento
espiritual.
Só aqueles que a recebem por esmeril renovador conseguem extrair-lhe as
preciosidades.
É por isso que nem todos os aflitos podem ser bem-aventurados, de vez que,
somente aproveitando a dor para a materialização consistente de nossos ideais e
de nossos sonhos, é que se nos fará possível encontrar a alegria triunfante do
aprimoramento em nós mesmos, a que somos todos chamados pela vida comum, nas
lutas de cada dia.
Emmanuel