Não Invejes
Perante os quadros do mundo
Se a tentação te salteia,
Não invejes no caminho
O fausto da vida alheia.
Banquetes, festas, prazeres,
E mundanas evidências
São ligeiros artifícios
No jogo das aparências.
Registra o velho rifão
Na luta que te apoquenta:
"Quanto mais amplo o navio
Mais ampla surge a tormenta."
Comumente, orquestra e flores,
Com seda e brilho a granel,
Escondem grandes feridas
Rasgadas em lodo e fel.
A mulher muito enfeitada
Muita vez guarda aflição
De todo um Vesúvio ardendo
Nas fibras do coração.
O homem que administra
No poder a que se eleva
Quase sempre traz consigo
Tristeza, amargura e treva.
Recorda que a vaidade
Hoje bela, altiva e forte,
Amanhã será jungida
Ao frio grilhão da morte.
Não guardes fome de ouro,
Não te esqueças de que a usura
Acaba desesperada
No gele da sepultura.
Não acalentes a inveja,
Chaga em lama horrenda e informe.
Trabalha e serve, lembrando
Que a justiça nunca dorme
Conserva a simplicidade
E ajuda sem distinção.
A glória da caridade
É filha da compaixão.
Suporta com paciência
As dores da própria cruz.
A dor bem aproveitada
É senda para Jesus.
Casimiro Cunha