Em Tua Aflição
Guarda cuidado, nas horas de aflição, para que as tuas lágrimas de sofrimento
não se convertam em óleo de egoísmo, incandescido nas chamas do desespero, a
incendiar-te o caminho.
Lembra-te dos que jornadearam na Terra antes de ti e recorda que outros viajarão
amanhã no sulco de teus passos para que a serenidade e a confiança te abençoem a
existência.
Nos instantes de inconformação e de dor, lança breve olhar à retaguarda e
reflete na angústia dos que caminham, dentro da noite, sem esperança...
Observa os que jazem na sombra da cegueira, os que se tresmalham nas trevas da
loucura, os que foram mutilados ao nascer...
Medita naqueles que ainda hoje não dispuseram de pão para sossegar o estômago
atormentado, que não puderam conciliar o sono sob as garras da inquietação ou
que agonizam fora do lar, sequiosos da assistência e do afeto que lhes faltaram
à vida...
Não te detenhas, na revolta ou no desânimo, já que possui cérebro para
raciocinar com segurança, olhos para enxergar a paisagem, verbo para tecer a
caridade e o consolo das mãos para auxiliar...
Não olvides que as aflições irremediáveis emudecem o coração, impedindo, muitas
vezes, a própria palavra naqueles que lhes padecem o insulto.
E, fazendo da própria luta o aprendizado bendito que Deus te concede, transforma
a tua aflição menor, que ainda pode clamar e definir-se, queixar-se e
estender-se, em sublime passo de entendimento para que te faças mais útil aos
que sofrem mais que ti mesmo, assimilando do Senhor a lição inolvidável do
sacrifício e da renúncia, através da qual, diante da flagelação e da morte,
converteu a própria cruz num poema de bem-aventurança e vida imperecível.
Emmanuel