Saudade Vazia

Desde muito chorava o belo filho morto,
Num desastre de mar em suntuoso falucho...
Triste, a fidalga anciã vivia em pranto e luxo,
No esplêndido solar ao pé de velho porto...

Certo dia, a criada, em rijo desconforto,
Dá-lhe um pobre enjeitado, um magro pequerrucho.
Ela clama: Não quero! Isto é morcego e bruxo,
Tem na face de monstro o nariz feio e torto!...

E a dama solitária, em angústia insofrida,
Atravessou a morte e acordou noutra vida,
Buscando, ansiosa e rude, a afeição do passado...

Debalde soluçou, na lição do destino...
Ao desprezar na Terra o infeliz pequenino,
Recusara, orgulhosa, o filho reencarnado.


Jorge Faleiros