O Pequeno Aborrecimento
Um moço de boas maneiras, incapaz de ofender os que lhe
buscavam o concurso amigo, sempre meditava na Vontade de Deus, disposto a
cumpri-la.
Certa vez, muito preocupado com o horário, aproximou-se de um pequeno ônibus,
com a intenção de aproveitá-lo para a travessia de extenso trecho da cidade em
que morava, mas, no momento exato em que o ia fazer, surgiu-lhe à frente um
vizinho, que lhe prendeu a atenção para longa conversa.
O rapaz consultava o relógio, de segundo a segundo, deixando perceber a pressa
que o levava a movimentar-se rápido, mas o amigo, segurando-lhe o braço, parecia
desvelar-se em transmitir-lhe todas as minudências de um caso absolutamente sem
importância.
Contrafeito com a insistência da conversação aborrecida e inútil, o jovem ouvia
o companheiro, por espírito de gentileza, quando o veículo largou sem ele.
Daí a alguns minutos, porém, correu inquietante a notícia.
A máquina estava sendo guiada por um condutor embriagado e precipitara-se num
despenhadeiro, espatifando-se.
Ouvindo com paciência uma palestra incômoda, o moço fora salvo de triste
desastre.
O jovem refletiu sobre a ocorrência e chegou à conclusão de que, muitas vezes, a
Vontade Divina se manifesta, em nosso favor, nas pequenas contrariedades do
caminho, ajudando-nos a cumprir nossos mais simples deveres, e passou a
considerar, com mais respeito e atenção, as circunstâncias inesperadas que nos
surgem à frente, na esfera dos nossos deveres de cada dia.
Meimei